Novas tecnologias e saúde do trabalhador: a mecanização do corte da cana-de-açúcar
Abstract
No contexto da reestruturação produtiva sucroalcooleira, a mecanização do corte da cana-de-açúcar tem sido justificada como uma medida de proteção ao meio ambiente e aos trabalhadores. Este artigo analisa as conseqüências da organização do trabalho no corte mecanizado da cana para a saúde dos operadores de colhedeiras. Com base em dados obtidos em entrevistas e observações diretas no local de trabalho, analisam-se as mudanças introduzidas na base técnica e no modo de divisão e de organização do trabalho, identificando as cargas laborais inerentes ao processo e a sua tradução em desgaste nos trabalhadores. O uso das colhedeiras mecânicas, por um lado, contribui para diminuir as cargas laborais do tipo físico, químico e mecânico; por outro, acentua a presença daquelas do tipo psíquico e fisiológico. Há indícios da ocorrência de mudanças significativas no perfil dos acidentes de trabalho quanto à diminuição da freqüência e aumento da gravidade. O perfil de adoecimento dos operadores de colhedeiras é semelhante àquele do cortador manual de cana-de-açúcar, sobressaindo os quadros de doenças psicossomáticas, relacionadas à organização do trabalho em turnos e à intensificação do seu ritmo através do uso das máquinas.