Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
SATELITISMO PLAQUETÁRIO – UMA CAUSA POUCO CONHECIDA DE PSEUDOTROMBOCITOPENIA
Abstract
Objetivo: Descrever um caso de satelitismo plaquetário como causa de pseudotrombocitopenia detectado na rotina de um grande laboratório. Introdução: O satelitismo plaquetário é um fenômeno raro que ocorre somente in vitro e pode ser visto à hematoscopia de indivíduos saudáveis ou com outras patologias, inclusive hematológicas. Caracteriza-se por trombocitopenia espúria ao hemograma completo e pela disposição de grande número de plaquetas em torno de neutrófilos na lâmina de esfregaço de sangue periférico preparados a partir da amostra colhida em tubo com Ácido EtilenoDiamonoTetra-Acético de sódio (EDTA). A formação dessas rosetas plaquetárias pode ser ainda observada ocasionalmente em torno de outras células como eosinófilos, basófilos, linfócitos ou monócitos. Embora o mecanismo que leva a essa alteração não seja plenamente compreendido, acredita-se que o EDTA possa agir diretamente modificando proteínas de membrana das plaquetas e dos leucócitos, resultando em pontes de interação entre ambos. Há, ainda, a possibilidade de ação indireta promovida pelo EDTA expondo criptoantígenos plaquetários que poderiam então interagir com autoanticorpos contra epítopos de plaquetas e neutrófilos simultaneamente. Relato de caso: Em novembro de 2023, deu entrada em nossa área técnica do Rio de Janeiro amostra colhida em tubo EDTA para a realização de hemograma completo de paciente do sexo masculino, 25 anos, sem comorbidades. O analisador XN-Sysmex liberouo resultado com contagem de plaquetas de 98.000/mm3, com sinalização de presença de grumos. Seguindo a rotina de nosso laboratório, amostra foi encaminhada para distensão automatizada e análise no equipamento CellaVision. À análise da hematoscopia, observamos numerosos neutrófilos com grande quantidade de plaquetas ao redor de seu citoplasma com aspecto de rosetas, configurando o satelitismo plaquetário como causa provável da trombocitopenia espúria. Como não dispúnhamos de amostra coletada em anticoagulante diferente (citrato ou CPDA) e não tínhamos acesso direto ao cliente para realizarmos distensão direta a partir de digito-punção, optamos por submeter a amostra ao agitador de alta frequência (Digital Vortex – ThermoScientific), com a correção da contagem plaquetária para a faixa da normalidade de 223.000/mm3. Discussão: A trombocitopenia é alteração frequentemente encontrada nos ambulatórios de Hematologia. As etiologias vão desde autoimunes, passando por doenças metabólicas / carenciais até falências medulares. No entanto, é fundamental a exclusão das trombocitopenias espúrias, principalmente em reduções leves a moderadas das contagens. Isso evita investigações desnecessárias, procedimentos invasivos, custos em saúde e estresse psicológico nos pacientes. Apesar do satelitismo ser evento raro, a pseudotrombocitopenia é relativamente frequente e deve estar sempre no leque de diagnósticos diferenciais. Conclusão: Seja em indivíduos saudáveis ou em pacientes portadores de doenças hematológicas ou autoimunes, a trombocitopenia espúria pode levar à investigação desnecessária ou, em casos mais graves, a procedimentos mal indicados. Por essa razão, a análise da hematoscopia por técnicos experientes e hematologistas deve sempre ser realizada como o primeiro passo na investigação de trombocitopenias detectadas ao hemograma completo.