Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

ENCEFALITE POR ENTEROVÍRUS EM UMA PACIENTE ADULTA IMUNOCOMPETENTE

  • Amanda Echeverría-Guevara,
  • Marco Antônio Sales Dantas de Lima,
  • Hugo Boechat Andrade,
  • Saulo Cristian Lima de Souza,
  • Cristiane da Cruz Lamas

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103452

Abstract

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Mulher, 45 anos, previamente hígida, foi internada por quadro de confusão mental, agitação psicomotora e crises epilépticas iniciado 3 dias após receber vacina tríplice viral. Hipótese diagnóstica inicial foi de encefalite pós-vacinal, ácido valproico 1500 mg/dia foi introduzido para controle das crises. Devido a possibilidade de encefalite herpética, fez uso de aciclovir venoso. Durante a internação realizou ressonância magnética (RM) de crânio que evidenciou lesões hiperintensas em FLAIR nos centros semiovais e lobo temporal direito. Líquor com 01 célula (100% mono), glicose (78mg/dl), proteínas (38mg/dl), teste de reação em cadeia da polimerase (PCR) para HSV1, HSV2, VZV, EBV, CMV, HH6, HH8 e sarampo negativos; PCR para enterovírus (EV) detectável, confirmando diagnóstico de encefalite por EV. Após melhora do quadro neurológico e sem novos episódios de crises epilépticas, recebeu alta hospitalar para seguimento pela neurologia. Durante acompanhamento precisou da conciliação das doses das drogas anticrise (DAC) sendo o último esquema em uso composto por ácido valproico 1500mg/dia e fenitoína 300mg/dia. Após três anos de acompanhamento ambulatorial, foi diagnosticada com tuberculose ganglionar confirmada por GeneXpert MTB-RIF detectável, sensível à rifampicina em material de biópsia de linfonodo. Nova sorologia para HIV não reagente. Iniciou RHZE, foi realizada troca de fenitoína por levetiracetam por interação medicamentosa com isoniazida. Um mês após o início do RHZE, reinternou por novo quadro de crise epiléptica, após ampla investigação, excluído nova infecção e aventada hipótese de crise epiléptica secundaria a uso de isoniazida, não sendo necessário sua interrupção, apenas ajuste das DAC, para melhora do quadro. A incidência de encefalite em adultos varia de 0,7-12,6/100.000 habitantes, sendo maior em crianças menores de um ano. A encefalite viral é a causa mais comum de encefalite e as etiologias mais comuns em todo o mundo são: herpes vírus (HSV-1/HSV-2), arbovírus e enterovírus não poliomielite. Os enterovírus (EV) possuem mais de 70 sorotipos; o sorotipo EV-71 tem sido associado a uma taxa mais alta de encefalite. O diagnóstico é realizado por identificação do EV por PCR. A RM cerebral pode evidenciar lesões hiperintensas de T2WI e FLAIR no mesencéfalo, ponte e medula. Cerca de 20% dos pacientes recuperados apresentam sequelas neurológicas. A isoniazida raramente (0,01%) pode causar sintomas neurológicos como crises epilépticas.

Keywords