Revista Ciência em Extensão (Mar 2017)
A extensão universitária e a prevenção da violência obstétrica
Abstract
A violência obstétrica se caracteriza pela apropriação do corpo e dos processos reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, através do atendimento desumanizado, medicalização e uso de processos artificiais, causando a perda da autonomia e da capacidade de decidir livremente sobre seus corpos e sua sexualidade, impactando negativamente a qualidade de vida de mulheres. Este trabalho acadêmico objetiva relatar a experiência de docentes e discentes em ações extensionistas, com práticas de educação em saúde para a prevenção da violência obstétrica, entre as mulheres atendidas por um projeto de extensão de uma Universidade Pública Estadual na Bahia. Trata-se de um relato de experiência de integrantes de um núcleo de extensão e pesquisa cujas atividades foram desenvolvidas no período de fevereiro a dezembro de 2015, com gestantes atendidas em Unidade Básica de Saúde (UBS) de um município baiano. Realizaram-se as seguintes atividades: atendimento clínico em pré-natal, práticas educativas em saúde, como roda de conversa e capacitação para profissionais de saúde sobre a importância da atenção humanizada à mulher em transcurso parturitivo. As práticas educativas em saúde mostram-se como uma estratégia de caráter efetivo quando o objetivo ofertar informações a uma determinada clientela. Um recurso, por meio do qual, o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde, alcança o cotidiano das pessoas, e se constitui como um conjunto de práticas para a promoção da saúde e prevenção de agravos. A execução das rodas de conversa com apresentação e distribuição de cartilhas despertou interesse das gestantes e seus acompanhantes em sala de espera em conhecer estratégias que possam evitar e prevenir a violência obstétrica. Esse modelo didático possibilita aproximação do estudante com as gestantes, pois incentiva o acolhimento e permite o desenvolvimento intelectual e cognitivo necessários em uma ação educativa. No que diz respeito ao atendimento clínico, foi possível reconhecer a satisfação das mulheres ao serem atendidas pelas estudantes bolsistas e voluntárias, e pelas docentes do projeto de extensão. As consultas clínicas se configuraram como um momento de escuta e diálogo entre gestantes e profissionais, o que tornou possível a formação de vínculos e favoreceu a resolubilidade das situações de saúde demandadas pelas gestantes. A capacitação dos ACS representou um elo a mais na cadeia de consolidação do movimento em defesa da atenção ao Parto Humanizado, ou seja, uma forma de dizer não à violência obstétrica, uma vez que um dos temas abordados nessa capacitação foi a presença do acompanhante durante o pré-natal, parto e puerpério, garantida pela lei 11.108 de 2005. Assim, a capacitação também se configurou como uma ampliação das ações de extensão, pois, tem-se agora um maior número de pessoas que socializa indiretamente a defesa da não violência obstétrica. Os resultados das atividades de extensão podem possibilitar um novo corpo de conhecimento e vivências que se agregam à teoria apreendida pelos acadêmicos, além de permitir a consolidação das políticas públicas de atendimento à mulher, em especial com vistas à redução da violência obstétrica, bem como, a diminuição dos índices de morbimortalidade materna e infantil no município.