Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (Apr 2020)

Caraterização da consulta aberta de uma Unidade de Saúde Familiar: quem, quando e porquê?

  • Hugo Rocha,
  • Raquel Braga,
  • Luís Filipe Cavadas,
  • Ana Miranda,
  • Ângela Neves,
  • Carla Silva,
  • Sofia Faria,
  • Sílvia Colmonero Martins,
  • Cátia Cordeiro,
  • Cristiana Teixeira,
  • Sofia Fernandes,
  • Rita Oliveira,
  • Maria Inês Oliveira,
  • Catarina Henriques Silva

DOI
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v36i2.12318
Journal volume & issue
Vol. 36, no. 2

Abstract

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Introdução: O aumento progressivo da lista de utentes dos médicos de família (MF) poderá acarretar um aumento da procura em consulta aberta (CA). Poucos estudos foram efetuados neste âmbito. A perceção de um grande volume de solicitações de CA da Unidade de Saúde Familiar (USF) e de motivos de consulta desajustados, suscitou a realização deste estudo. Objetivos: - Caracterizar a CA de uma USF em modelo B, relativamente a características sociodemográficas dos utentes, motivos de consulta e padrão temporal de afluência; - Relacionar o recurso à CA da USF com a acessibilidade à CA do próprio MF e suas unidades ponderadas. Métodos: Estudo observacional, transversal e analítico. População:CA da USF Lagoa. Amostra por conveniência das CA realizadas durante uma semana aleatória por mês, entre 01-06-2015 e 31-05-2016. Aplicou-se questionário elaborado pelos autores. Tratamento dos dados: estatística descritiva, teste qui-quadrado e correlação de Spearman. Resultados: recolheram-se dados de 1171 CA (taxa de participação - 63%). A maioria era dos utentes era do sexo feminino (62%), com 40-44 anos (9,5%; p<0,001) e isenta de taxa moderadora (57,9%; p<0,001). Maior afluência em Julho e Agosto de 2015, e Março de 2016 (p<0,001), à segunda-feira (23%), e às 9, 11, 14 e 15 horas (p<0.001). Verificou-se associação estatisticamente significativa entre a ausência do MF e a utilização da CA da USF (p<0.001). Não se verificou relação entre as unidades ponderadas da lista dos MF e o recurso dos seus utentes à CA da USF (r=0,043; p=0,907). Foram considerados adequados 88% dos motivos de consulta. Conclusões: Apesar de algumas limitações, como um possível viés de registo e de observação, o desenho do trabalho é robusto (pontos fortes - amostra grande, períodos temporais sorteados, teste piloto seguido de melhorias metodológicas), considerando-se ter validade interna. As principais conclusões apontam para a necessidade de adequar a resposta nos períodos de maior afluência e aumentar a oferta de CA pelo próprio MF a breve prazo, para diminuir o recurso a esta consulta. Ao contrário do percecionado, a maioria dos motivos de recurso são adequados. Este estudo é relevante, nomeadamente na caracterização dos padrões de afluência dos doentes à CA de Unidades de Saúde, podendo ser generalizado a outros contextos sociodemográficos, e poderá constituir um ponto de partida para melhorias na resposta da CA noutras unidades funcionais.