Cadernos de Linguística (Mar 2024)

Dos sentidos de vitalidade: revisando o Atlas das Línguas em Perigo (UNESCO) à luz de experiências indígenas locais

  • Beatriz de Oliveira,
  • Vanessa Sagica,
  • Cristine Gorski Severo

DOI
https://doi.org/10.25189/2675-4916.2024.v5.n1.id690
Journal volume & issue
Vol. 5, no. 1

Abstract

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Buscamos analisar e problematizar os significados de vitalidade presentes no Atlas das Línguas em Perigo da UNESCO (1996). Uma vez que a proposta tipológica e classificatória da UNESCO tem sido amplamente utilizada no campo das políticas comprometidas com a revitalização das línguas indígenas, tanto no Brasil quanto no exterior. Destacamos a importância de uma análise crítica e contextualizada que problematize os significados de vitalidade em relação ao status das línguas consideradas “em perigo”. Atentamos, especialmente, para as categorizações que envolvem os “graus de perigo” relacionados aos nove fatores avaliativos do Atlas. Essa problematização considera, conforme Lupke (2017) que os sentidos de vitalidade das línguas devem considerar quatro pilares: 1) investigação das práticas comunicativas em espaço geográfico ou ecossistema linguístico significativo; 2) investigação sobre como essas práticas comunicativas são nomeadas e reificadas, e quais ideologias e perspectivas resultam da prática de nomeá-las; 3) estudo das funções indexicais do uso da linguagem e línguas como representações ideológicas; 4) pesquisas sobre as diferentes dinâmicas de poder, perspectivas e ideologias de falantes e pessoas de fora desses contextos. A título de ilustração, apresentamos alguns sentidos de vitalidade a partir de experiências linguísticas dos povos Macuxi (Norte do Brasil) e Mbyá Guarani (Sul do Brasil), a fim de verificar como esses pilares ajudam a expandir criativa e produtivamente os sentidos de vitalidade e de revitalização para além do sistema classificatório indicado pelo Atlas. Por fim, incluímos uma discussão sobre a importância de uma agenda indígena de pesquisa comprometida com uma perspectiva decolonial.

Keywords