Educação em Revista (Aug 2024)

A PRODUÇÃO DA NOÇÃO DE NORMALIDADE E SEUS SENTIDOS HISTÓRICOS

  • CAMILA BOTTERO CORRÊA,
  • KAMILA LOCKMANN

DOI
https://doi.org/10.1590/0102-4698-39848
Journal volume & issue
Vol. 40

Abstract

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RESUMO: Este artigo é recorte de uma pesquisa mais ampla que analisou discursos da inclusão escolar, em documentos oficiais, e o modo como operam estratégias de governamento sobre os sujeitos ditos normais. Para isso, tensionar o conceito de normalidade foi fundamental à pesquisa. No presente texto, temos por objetivo apresentar como a noção de normalidade foi sendo produzida historicamente e junto a ela práticas de in/exclusão com ênfase no sujeito dito normal. Tomamos como suporte teórico os estudos realizados por Michel Foucault, Lilia Lobo e Georges Canguilhem, autores que, em suas investigações, tensionaram as noções de anormalidade e norma. Como resultados, construímos três sentidos históricos relacionados à noção de normalidade, que se encontram imbricados com os saberes produzidos ao longo de cada época: o ideal transcendental - evidenciado na Idade Média e constituído pelos saberes religiosos e/ou divinos, estando vinculado ao corpo e à conduta dos sujeitos; a normalidade científica - constituída pelos saberes científicos, entre os séculos XVI e XVIII, vinculada ao comportamento dos sujeitos e, no fim do século XVIII, também se mostrando relacionada à sua intimidade; e as normalidades diferenciais - associadas a uma ciência de Estado, aos saberes estatísticos e a uma norma flexível, que entra em operação na sociedade de seguridade. Essa noção constitui-se a partir de dois movimentos relacionados a um mesmo fenômeno: o da naturalização das diferenças. O primeiro movimento refere-se à criação e proliferação de normalidades diferenciais, e o segundo movimento concerne à aceitação, à tolerância e ao respeito à diversidade.

Keywords