Cadernos de Estudos Sociais (Jan 2005)

A QUESTÃO AMBIENTAL: UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO À LUZ DA ECONOMIA ECOLÓGICA

  • Clóvis Cavalcanti

Journal volume & issue
Vol. 21, no. 1-2
pp. 43 – 56

Abstract

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Apesar do ponderável significado dos problemas ambientais que nos cercam, o cerne propriamente da questão ambiental não residiria nesses problemas. Eles expressam atitudes, valores, uma visão de mundo ou arcabouço mental, enfim, que trata a natureza como mais um compartimento da economia. Como um apêndice de menor importância na constelação de setores que constituem a sociedade. Tal visão de mundo, sim, parece constituir a encarnação da questão ambiental. Pois a natureza, em conseqüência da postura assumida, vai surgir apenas como provedora de recursos: como se fosse uma fonte inesgotável. Por isso, é tratada a custo zero. Seu papel é o de um parâmetro fixo, inalterável, de disponibilidade infinita. Mesmo do ponto de vista dos recursos naturais indiscutivelmente não-renováveis, como o petróleo, a economia raciocina como se eles fossem durar para sempre. Contudo, ninguém de bom senso pensará que está financiando saudavelmente seu consumo de comida quando, para tanto, precisar se desfazer de um bem — como um computador, um aparelho de TV, um relógio de estimação, o assoalho da sala-de-visita. Não pensa porque sabe que o ganho assim obtido não é renda. Trata-se de pura diminuição de ativos: diminuição do patrimônio; diminuição da capacidade de prover seu sustento. Ora, por que o mesmo raciocínio não se aplica a um país ou à economia de uma cidade no tocante aos recursos de sua “casa” que se degradam ou extinguem? É aqui que cabe procurar entender em que base se ergue a verdadeira questão ambiental, tema deste artigo.

Keywords