Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
ANÁLISE DE SOBREVIDA GLOBAL DE LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA EM PACIENTES COM MAIS DE 60 ANOS ACOMPANHADOS NA UNIDADE DE HEMATOLOGIA DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
Abstract
Introdução/Objetivos: A leucemia mieloide aguda (LMA) é uma neoplasia onco-hematológica, cuja mediana de idade é de 70 anos. Nesse sentido, muitos pacientes com LMA não são candidatos preferenciais para quimioterapia intensiva. Com o desenvolvimento de novos fármacos, como agentes hipometilantes e inibidores do BCL2, muitos pacientes, que não seriam candidatos à quimioterapia intensiva, são agora candidatos a esquemas menos intensos e até mesmo transplante alogênico. No sistema público, ainda não há acesso fácil a esse tipo de tratamento. Desse modo, avaliar os fatores associados ao desfecho ruim nesse grupo de pacientes é importante para a definição de melhores estratégias de manejo de tratamento. Material e métodos: Trata-se de um estudo retrospectivo, utilizando dados dos internamentos de pacientes na unidade de Hematologia do Hospital Geral de Fortaleza, do período de 03/08/2015 a 19/07/2023. Os dados foram expressos em termos de mediana (intervalo interquartil - IQR). Foram utilizados testes não-paramétricos para avaliação de variáveis não pareadas. Para a avaliação de chance de sobrevida, foi utilizado o método de Kaplan-Meier, bem como o modelo de regressão de Cox. Foram considerados estatisticamente significativos valores de p-valor < 0,05. Para valores de p-valor entre 0,05-0,1, considerar-se-á tendência de associação significativa. Resultados: No período avaliado, foram compilados dados de 48 pacientes com LMA, dos quais 25% tinham mais de 60 anos. Na análise comparativa entre pacientes com mais de 60 anos e menos de 60 anos, houve diferença significativa entre D14 positivo (maior nos pacientes com mais de 60 anos; p-valor: 0,002); houve tendência de taxa de remissão completa após indução ser maior em pacientes com menos de 60 anos (p-valor: 0,072). Na análise através do modelo cumulativo de sobrevida, houve tendência de diferença significativa entre os dois grupos (18,8 meses em pacientes com menos de 60 anos x 5,7 meses em pacientes acima de 60 anos, p-valor: 0,069). Na análise do modelo de regressão de Cox, apenas ter atingido remissão completa na primeira indução (CR1) teve associação significativa, quando, analisada com sexo masculino, ter feito transplante alogênico e D14 positivo (p-valor: 0,02). Discussão: O tratamento de pacientes com LMA com idade elevada é um desafio, especialmente quando não se dispõe de novos medicamentos com menores índices de complicações infecciosas durante o tratamento. Na presente avaliação, pacientes com mais de 60 anos tiveram desfecho pior que pacientes com idade inferior. Conforme estudos atuais, o uso de agentes hipometilantes e inibidores do BCL2 parecem seguros e não inferiores na taxa de resposta do que esquemas clássicos, baseados em antracíclicos e citarabina. Conclusão: Apesar de não estatisticamente significativa, a chance de sobrevida global de pacientes com mais de 60 anos tratados com regimes clássicos de indução, a saber agente antracíclico e citarabina, não esteve associada a desfechos favoráveis nesse grupo de idade. Desse modo, é importante que esses pacientes sejam avaliados para novos tratamentos que têm demonstrado melhores desfechos.