Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
IMUNOGENICIDADE DO SISTEMA P1PK: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: A transfusão de hemocomponentes é uma terapêutica útil à medicina moderna, porém não é isenta de riscos. Um desses riscos se inventaria à formação de anticorpos contra um ou mais antígeno eritrocitário (AGV) em razão de desigualdades fenotípicas entre doador e receptor. E, entre os Sistemas de Grupos Sanguíneos, o Sistema Rh é reconhecido como o mais imunogênico. Objetivo: Avaliar o risco de aloimunização a AGV do Sistema P1K1 comparativamente ao risco no Sistema Rh a partir de um caso clinico em um hospital público de Maricá, Rio de Janeiro. Materiais e métodos: Estudo descritivo e retrospectivo a partir de dados do prontuário hospitalar, de registros na agência transfusional dos ensaios imunohematológicos e dos fenótipos de Concentrados de hemácias (CH) transfundidos em paciente aloimunizada para os Sistemas de Grupos Sanguíneos Rh e P1K1 em internações entre os anos de 2022 a 2024. Para triagem de anticorpos foi empregada a técnica em Gel-teste LISS/Coombs. O risco de aloimunização foi avaliado quando do aparecimento do anticorpo e pelo número total de CH transfundidos com o antígeno correspondente. Relato do caso: Mulher caucasiana, idosa (> 65 anos), com primeira internação hospitalar e solicitação de CH em 28/10/2022. Exames imunohematológicos exibiam tipagem sanguínea A RhD+, Coombs indireto (CI) negativo. Na data de 28/08/2023 houve um novo atendimento transfusional, cumprido com CH filtrado, sustentando CI negativo. Em 27/03/2024, ensaios pré-transfusionais exibiram CI positivo e estudo imunohematológico avançado sinalizou a presença de aloanticorpo anti-P1, não sendo possível descartar anti-C. À paciente foram administrados 2 CH, respeitando aloanticorpo identificado e antígenos do Sistema Rh. Na mesma internação, um novo atendimento hemoterápico, em 6 dias, alcançou a confirmação da presença do alo anti-C. Levantando as informações fenotípica dos CH transfundidos na paciente, identificou-se que a paciente recebeu, em 28/10/2022, 2 CH com antígenos Pk e P (fenótipo P2), cooperando para a formação do anti-P1; mas em apenas 1 CH o antígeno C estava presente, cooperando para a formação do anti-C. Discussão: A aloimunização eritrocitária pode ocorrer já nas primeiras transfusões, relacionável à exposição do receptor a novo antígeno e seu potencial de imunogenicidade, do número e frequência de transfusões, e das condições genéticas do paciente. Os antígenos do Sistema de Grupo Sanguíneo Rh são sabidamente muito imunogênicos, mas não há na literatura delineação acerca da imunogenicidade do Sistema de Grupo Sanguíneo P1Pk e o risco de aloimunização. No presente caso, identifica-se que, na mesma oportunidade transfusional, menor dose de antígeno desigual foi necessária para aloimunização do paciente para o Sistema de Grupo Sanguíneo Rh comparativamente ao Sistema de Grupo Sanguíneo P1Pk (1 CH versus 2 CH, respectivamente). É também possível considerar que a excitação do sistema imune do paciente por um sistema altamente imunogênico possa ter cooperado ao desenvolvimento de aloanticorpos para o sistema P1K1. Conclusão: É importante um diagnóstico assertivo e o conhecimento de condições clinicas implicadas à possibilidade de múltiplas transfusões para assegurar a seleção de CH fenótipo concordante com paciente para os Sistemas de Grupos Sanguíneos mais imunogênicos e, com isso, prevenir hiperestimulo transfusional do Sistema Imune do receptor e consequente formação de aloanticorpos, incluindo os de menor interesse clinico.