Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)

MENINGITE DE MOLLARET. RELATO DE CASO. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. DISCUSSÃO

  • Carolina Narita,
  • Laila Mourad,
  • Flavia Rodrigues Oliveira,
  • Roberto Focaccia

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102422

Abstract

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Introdução: A Meningite de Mollaret (MM) é uma doença muito rara, descrita em três pacientes pelo neurologista francês Pierre de Mollaret, em 1944, como uma meningite asséptica, linfomonocitária, benigna recorrente, regressão espontânea em poucos dias. Yamamoto et al, em 1991, identificaram o Herpes simplex (HSV) no líquor, predominantemente o HSV-2. Porém, ainda existem muitos pontos obscuros na patogênese e no tratamento. Objetivo: Discutir a definição de caso. Método: Relato de caso seguido por revisão bibliográfica e discussão. Resultados: Paciente do sexo feminino, 43 anos, escolaridade superior, apresentou quadro compatível à MM, tendo desenvolvido sete episódios recorrentes de meningite linfomonocitária ao longo de 14 anos (2008-2022), com boa evolução clínica. No primeiro episódio a paciente apresentou febre, rigidez de nuca, cefaleia holocraneana e forte mialgia, hiperacusia. Os episódios subsequentes foram se exteriorizando paulatinamente de formas mais leves. O exame liquórico sempre revelou aspecto turvo, com pleocitose discreta linfomonocitária, discreta proteinorraquia e glicorraquia normais. O HSV-2 tipo 2 foi identificado no líquor, por biologia molecular. Testes tomográficos, sorológicos, auto-imunes, imunológicos normais. Não houve qualquer envolvimento neurológico de relevo durante e após as ocorrências clínicas. Inicialmente, a etiologia da MM era desconhecida. Em 1991, Yamamoto et al. detectaram por primeira vez o DNA o Herpes simplex (HSV) por biologia molecular no líquor de pacientes com a síndrome descrita por Mollaret. Outros autores demonstram, posteriormente, o predomínio do HSV, em sua maioria HSV-2, como fator causal. Entretando, a revisão da literatura de anos seguintes revelou um número expressivo de relatos de doenças raras não relacionadas à descrição original de Mollaret. Assim, vários autores assumiram a descrição de meningites assépticas com comprometimentos neurológicos importantes, se afastando da descrição clássica inicial de Mollaret. Da mesma forma, vários autores citam casos supostamente de MM causados por anti-inflamatórios. Conclusão: A análise de dezenas de relatos encontrados nos principais bancos de dados nos permitiu sugerir fortemente de que a Meningite de Mollaret constitui uma entidade distinta e extremamente rara, não podendo ser confundida com outros diagnósticos diferenciais de meningites linfomonocitária assépticas, como frequentemente referidos.