Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

RELATO DE CASO: MIELOFIBROSE PRIMÁRIA TRIPLO NEGATIVO ASSOCIADA A MUTAÇÃO TP53

  • MEV Batista,
  • JA Castro,
  • TCL Benevides,
  • DJB Ribeiro,
  • HMG Souza

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S487

Abstract

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Introdução: A mielofibrose primária (MFP) caracteriza-se por uma neoplasia mieloproliferativa BCR-ABL1 negativa, sendo a mais agressiva entre seus subtipos. Sua forma primária é associada a mutações nos genes JAK2, MPL ou CALR em cerca de 90% dos casos, sendo os 10% restantes as formas de mielofibrose triplo negativo (MFTN), comumente associadas a pior prognóstico. O presente relato objetiva ilustrar um caso de mielofibrose primária triplo negativo associada a mutação do TP53. Caso clínico: Mulher, 45 anos, iniciou quadro de astenia, apatia e palidez, evoluindo posteriormente com febre vespertina. Exames laboratoriais evidenciaram pancitopenia grave, justificando internação hospitalar para investigação diagnóstica, suporte clínico e transfusional. O mielograma inicial evidenciou alterações displásicas em séries eritrobásticas e granulocíticas, sendo interrogado síndrome mielodisplásica ou alterações secundárias a processo reacional. Biópsia de medula óssea foi sugestiva de mielofibrose primária em fase celular (MF grau 2/3). Não foi realizado estudo citogenético por aspirado medular seco. Apresentava ainda esplenomegalia homogênea (17.7 cm), com painel imunológico e teste rápido para leishmaniose visceral negativo. Pesquisa de mutações genéticas foram negativas para MPL, CALR e mutação V617F no gene JAK2. Concomitantemente a internação, seu irmão foi diagnosticado com leucemia mieloide aguda, levantando a hipótese de predisposição familiar. Realizado sequenciamento genético para câncer hereditário expandido que identificou a presença de duas variantes, uma patogênica e outra provavelmente patogênica, ambas em heterozigose e sem fase definida do gene TP53. A paciente apresentou neutropenia febril refratária a vários esquemas antibióticos, evoluindo com choque séptico e óbito enquanto estava em programação de transplante alogênico de medula óssea. Discussão: A mielofibrose triplo negativo é uma condição rara, que tem como importante diagnóstico diferencial a síndrome mielodisplásica fibrótica, podendo ocorrer sobreposição entre as duas doenças. No caso descrito tivemos algumas limitações diagnósticas, levando em consideração a ausência de estudo citogenético. Entretanto, a avaliação histopatológica por patologista experiente sugere fortemente o diagnóstico de Mielofibrose Primária. Apesar do progresso observado nos últimos anos direcionados a compreensão dos efeitos dos perfis mutacionais, o papel da mutação do TP53 no prognóstico da mielofibrose ainda é pouco compreendido. A associação da mutação do TP53 com neoplasias hematológicas está relacionada a curso clínico agressivo, baixas taxas de resposta as terapias convencionais e sobrevida geral inferior. Quando avaliado o status da mutação em pacientes portadores de mielofibrose primária submetidos a transplante de medula óssea, observou-se que pacientes com TP53 multihit apresentavam sobrevida geral inferior e taxas de recidiva superiores, incluindo transformação leucêmica, quando comparados aos pacientes single-hit. Conclusão: A mielofibrose primária associada a mutação do TP53 possui comportamento agressivo, com altas taxas de transformação leucêmica. Conhecimentos sobre a doença são limitados, com necessidade de ampliação de estudos genéticos para melhor compreensão, adequado diagnóstico e tratamento.