Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)

AVALIAÇÃO DO EFEITO POTENCIAL DO USO CONTÍNUO DE MEDICAMENTOS ANTIRRETROVIRAIS SOBRE A INFECCÃO POR SARS-COV-2

  • Lucas Chaves Netto,
  • Camila Melo Picone,
  • João Henrique Bonato,
  • Ricardo Vasconcelos,
  • Adriana C.T. Proença,
  • Luiza Azem Camargo,
  • Mariana R. Santiago,
  • Esper G. Kallas,
  • Vivian Iida Avelino-Silva

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102496

Abstract

Read online

Introdução: Alguns estudos sugerem que medicamentos antirretrovirais (ARV) possuem efeito inibitório sobre o SARS-CoV-2 em modelos in vitro, porém não foram observados benefícios do uso de ARV no tratamento de pessoas com COVID-19. O efeito potencial do uso contínuo de medicamentos ARV sobre o risco de infecção por SARS-CoV-2 não é conhecido. Objetivo: Comparar a porcentagem de infecções por SARS-CoV-2 em PVHIV e controles durante o período anterior à implementação de vacinas no Brasil. Método: Estudo de coorte incluindo PVHIV sob tratamento ARV e contactantes próximos sem diagnóstico de infecção por HIV acompanhados por ?120 dias com avaliação clínica semanal e avaliação sorológica (IgM/IgG) ao início (TS1) e final (TS2) do seguimento. A infecção foi definida pela soroconversão de IgG (TS1 negativo e TS2 positiva) e/ou positividade em exame laboratorial (PCR ou antígeno) durante o período do estudo. Resultados: Entre abril/2020 e janeiro/2021, foram incluídos 267 PVHIV e 175 controles com mediana de idade de 52 e 44 anos, respectivamente; desses, 25 PVHIV e 56 controles não realizaram o TS2. Sintomas gripais foram relatados por 56 PVHIV e 35 controles ao longo do estudo, e infecções confirmadas por PCR foram registradas para 6 PVHIV e 3 controles. Um total de 74 amostras tiveram IgG positivo; entre PVHIV, 14 tiveram resultado reagente no TS1 e TS2, e 18 tiveram resultado reagente somente no TS2. No grupo controle, 5 indivíduos tiveram resultado reagente no TS1 e TS2, e 2 tiveram resultado reagente somente no TS2. A incidência de infecção estimada foi de 10% entre PVHIV (23/242; IC95% 6-14) e 3% entre controles (4/119; IC95% 1-8), sugerindo ausência de efeito protetor estatisticamente significante do uso contínuo de ARV sobre o risco de infecção por SARS-CoV-2. Conclusão: Apesar do efeito antiviral in vitro demonstrado em alguns estudos, o uso de ARV como profilaxia pré-exposição ao SARS-CoV-2 não parece ser relevante.