Revista Brasileira de História da Ciência (Nov 2021)
Pontes e estradas em uma província no interior do Brasil oitocentista
Abstract
Esta pesquisa analisou a especificidade da infraestrutura viária da província de Minas Gerais entre 1835 e 1889. As obras viárias envolveram uma rede específica de atores: engenheiros nacionais e estrangeiros, executores das obras (arrematantes, empreiteiros, encarregados) e artífices. Enfatizam-se o processo de adoção de novas tecnologias construtivas e a importância de atores distintos no âmbito da Engenharia no Brasil, assim como as formas de contato e transmissão de conhecimento científico e técnico durante a construção de pontes e estradas. A modernização viária presenciou (1) a intensa circulação de engenheiros e, consequentemente, a junção de problemas técnicos e econômicos na edificação de pontes e estradas; (2) a fragilidade do sistema de patente de 1830 na tentativa de construção e difusão de uma ponte pênsil; (3) a existência de rotas internas que atendiam à circulação mercantil. O trabalho mostra as relações entre o mercado (setor de exportação e abastecedor de gêneros alimentícios), o Estado e os transportes. Analisa-se a construção de pontes e estradas, dando atenção especial à disponibilidade de instrumentos científicos. Os resultados mostram que a compra e o uso de instrumentos científicos criaram uma rede de contato entre engenheiros e uma oficina de instrumentos científicos. Os processos de pontes e estradas forneceram quatro resultados específicos: (1) a relação comercial estabelecida entre o Armazém e Oficinas de Ópticas e Instrumentos Científicos e os engenheiros; (2) os produtos comprados e reparados no estabelecimento comercial; (3) a maneira pela qual os engenheiros viajavam e a divisão social do trabalho em torno das tarefas diárias de transporte, desmontagem e manutenção dos instrumentos científicos; (4) os livros comprados nas livrarias na cidade do Rio de Janeiro.