Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
DESAFIOS NA CONCLUSÃO DIAGNÓSTICA DE DOENÇA DE ERDHEIM-CHESTER: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: A doença de Erdheim-Chester (DEC) é uma histiocitose rara caracterizada por infiltrado de histiócitos xantomatosos em múltiplos órgãos, frequentemente associada a mutações no gene BRAF V600E. Sua apresentação clínica é variada e pode envolver os sistemas esquelético, cardiovascular, renal e nervoso central. A Leucemia Mielomonocítica Crônica (LMMC) é uma neoplasia mieloide crônica caracterizada por monocitose persistente e displasia das linhagens hematopoéticas. A coexistência dessas duas doenças é rara e apresenta desafios significativos no diagnóstico e manejo terapêutico. Relato de caso: Homem de 78 anos, diagnóstico prévio de leucemia mieloide crônica (LMC) em uso de imatinib, em resposta hematológica completa e MR3. Em 2022, tomografia computadorizada (TC) mostrou densificação da gordura perirrenal bilateral, sem sintomas associados. O paciente foi internado devido a um quadro de vertigem periférica e uma nova TC revelou aumento da densificação da gordura perirrenal. Exames laboratoriais mostraram leucócitos de 21.610/mm3, neutrófilos de 17.800/mm3, monócitos de 3.040/mm3 e linfócitos de 750/mm3. PET-CT indicou discreto aumento da atividade glicolítica em densificação da gordura pararrenal (SUVmax 3,5). Pouco tempo após, foi internado novamente por piora da função renal e congestão sistêmica, com melhora após corticoide e diureticoterapia. A imunofenotipagem do sangue periférico identificou 92,9% de células da linhagem granulocítica/monocítica, sendo 16,3% de células monocíticas maduras. A monocitose foi constituída por monócitos maduros sem aberrâncias imunofenotípicas, sendo 23,6% de monócitos clássicos e 76,4% de monócitos intermediários. O anatomopatológico da gordura perirrenal revelou tecido fibroadiposo com infiltrado histiocitário e imuno-histoquímica positiva para CD68, CD4 e CD163, negativa para CD1a e S100, com expressão de BRAF fraca e focal. Análise molecular por NGS da gordura perirrenal revelou BRAF V600E 3,8%, JAK2 V617F 7,2% e TET2 P1885fs, confirmando o diagnóstico de Erdheim Chester. Por outro lado, a avaliação medular mostrou hipercelularidade granulocítica, normomaturativa, sem alterações na série monocítica. A imunofenotipagem revelou alterações associadas à displasia e monocitose. A monocitose foi constituída por 1,8% de monoblastos, 4,8% de promonócitos e 1,4% de monócitos maduros, com curva maturativa dentro da normalidade, não considerado relacionado à leucemia mieloide crônica. Portanto, foi concluído o diagnóstico de LMMC e DEC, sendo iniciado Vemurafenib. Discussão: A associação entre DEC e neoplasias mieloides, como LMMC, é documentada na literatura, em descrição de 189 casos, com associação em 50% da casuística. DEC é uma histiocitose rara que se manifesta com envolvimento multissistêmico, frequentemente associada a mutações no gene BRAF V600E. A coexistência dessas condições pode complicar o manejo clínico e requer abordagens terapêuticas específicas e individualizadas. Neste caso, a presença das mutações BRAF V600E, JAK2 V617F e TET2 destaca a complexidade da doença e necessidade de intervenção terapêutica direcionada, como Vemurafenib, um inibidor de BRAF, que tem mostrado eficácia no controle da DEC. Conclusão: O diagnóstico e tratamento simultâneo de LMMC e DEC apresentam desafios clínicos significativos. A identificação de manifestações atípicas e associação com mutações genéticas específicas são fundamentais para uma intervenção eficaz.