Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)

PRIMEIRO RELATO DE LITERATURA DE PANDORAEA SPUTORUM COMO CAUSA DE INFECÇÃO DE CORRENTE SANGUÍNEA RELACIONADA A CATETER VASCULAR DE DIÁLISE

  • Josias Oliveira Aragão,
  • Alexandre Pinheiro,
  • Diego Feriani,
  • Aline Ibanês,
  • Vera Lúcia Barbosa,
  • Jussimara Monteiro,
  • Cely S. Abboud

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102264

Abstract

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Pandoraea spp é um gênero de bactérias Gram-negativas não-fermentadoras mais comumente relatadas em portadores de fibrose cística. Relatamos neste caso paciente com infecção relacionada a dispositivo vascular tunelizado. Trata-se de paciente de 56 anos, portadora de doença renal crônica e hipertensão arterial sistêmica, sem história de doença pulmonar crônica. Necessitou início de hemodiálise (HD) 10 meses antes da internação, com inserção de cateter tunelizado. Cerca de 7 meses após, iniciou episódios de calafrios durante sessões de HD, sem outros sintomas. O cateter foi retirado, sendo inserido cateter não tunelizado. Cerca de um mês após, recorreu com calafrios durante HD, coletado culturas e iniciado terapêutica empírica com ceftazidima e vancomicina. Devido falha de resposta clínica ao esquema, paciente foi encaminhada ao hospital terciário de cardiologia. Após admissão, foi suspenso o esquema antimicrobiano e coletadas hemoculturas seriadas a fim de identificar agente etiológico. Três amostras de cultura de sangue periférico do D1 de internação e duas do D3 resultaram negativas. Três amostras de sangue do D4 resultaram positivas para Pandoraea spp (tempo de positividade em sangue de cateter de 13 horas, e em amostras de sangue periférico, de 27 horas). Posteriormente, recebida notificação de crescimento do mesmo agente em amostra coletada um dia antes da admissão em laboratório externo. Pandoraea sputorum foi identificada pela técnica de MALDI-TOF MS. Realizado perfil de sensibilidade, para o qual se mostrou resistente a amicacina e gentamicina; sensível a imipeném, piperacilina-tazobactam e ciprofloxacino. Critérios para a interpretação do perfil de sensibilidade baseados nos pontos de corte de Pseudomonas aeruginosa. A terapia guiada por cultura foi realizada com imipenem por 14 dias, associada a retirada do cateter, com remissão dos calafrios e tremores nas primeiras 48 horas. Ecocardiograma transesofágico da admissão hospitalar não evidenciou vegetações ou lesões valvulares sugestivas de endocardite. Colhidas hemoculturas periféricas de controle, as quais resultaram negativas três dias após término de antibioticoterapia. Ecocardiograma transtorácico pós tratamento sem sinais de endocardite. Por ser esse o primeiro relato na literatura de infecção da corrente sanguínea relacionada a cateter vascular por Pandoraea sputorum, chamamos atenção para a potencial emergência desse agente em pacientes submetidos a terapia de substituição renal/hemodiálise.