Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

TRANSMISSÃO VETORIAL-ORAL DE DOENÇA DE CHAGAS EM LACTENTE DE ÁREA URBANA EM BELÉM, AMAZÔNIA: RELATO DE CASO E DISCUSSÃO DE INOVAÇÕES PARA ESTRATÉGIA PITS EM POPULAÇÕES VULNERÁVEIS

  • Ana Yecê das Neves Pinto,
  • Jessica Cristina T. Vasques dos Santos,
  • Marcus Dimitri Pontes de Oliveira,
  • Alan Diego Moura de Farias,
  • Aguinaldo Moura de Freitas

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103580

Abstract

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A doença de Chagas aguda no Pará representa um desafio aos órgãos de vigilância e controle se apresentando com uma epidemiologia inusitada e padrões repetitivos de ocorrências acidentais de transmissão predominantemente por via oral quase sempre envolvendo vetores silvestres. Estes, a despeito de não estarem domiciliados, constituem um elo forte da cadeia de transmissão a humanos, seja de forma direta por sua dispersão facilitada por alterações climáticas e ação antrópica ou indireta, e cada vez mais têm se aproximado de populações vulneráveis. Neste relato apresentamos o caso de lactente, residente na capital que entrou em contato com triatomíneo na sacada do apartamento residencial e desenvolveu infecção aguda. No dia 23 de maio/2023, um lactente do sexo masculino de nove meses, residente de área urbana em Belém, foi encontrado pela mãe com um inseto suspeito parcialmente mastigado na boca. No dia 24, a família levou o inseto ao Posto de Informações de Triatomíneos (PIT) do Instituto Evandro Chagas (IEC) e o mesmo foi identificado como um triatomíneo do gênero Rhodnius, porém sem condições para exame de infectividade. A criança estava assintomática e foi submetida ao protocolo de vigilância com coleta de sorologias iniciais, sendo os resultados desta primeira coleta todos negativos. A mãe foi instruída a procurar o serviço caso o lactente apresentasse febre. Em 15 de junho, antes de sua 2ª visita protocolar, o lactente retornou ao IEC apresentando episódios febris há três dias, registrando temperaturas de 38,3°C e 37,5°, sem outros sintomas. Foi submetido a exame parasitológico (gota espessa), confirmando a presença de Trypanosoma cruzi quantificando-se 15 parasitas em 200 campos examinados. O caso foi notificado como Doença de Chagas Aguda e o tratamento específico iniciado imediatamente, com acompanhamento clínico no IEC. Exame ecocardiográfico normal e sorologias sequenciais negativas (sem viragem). Foram desencadeadas ações de busca ativa entomológica em esforço conjunto com a vigilância epidemiológica municipal e não foram encontrados outros insetos. Exames realizados nos contatos familiares todos assintomáticos, tiveram resultados negativos, descartando outras possíveis formas de transmissão. Os autores discutem a aproximação dos insetos às populações vulneráveis e comparam à situações similares de áreas clássicas de transmissão vetorial e, mais recentemente, também na Amazônia em regiões ribeirinhas.

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