Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Dec 2022)

Saúde dos indivíduos em situação de rua

  • Rafael Senff Gomes,
  • Luiza Cardoso de Lima Passoni,
  • Ricardo de Paula Sirigatti,
  • Leandro Rozin,
  • Leide da Conceição Sanches,
  • Francelise Bridi Cavassin

DOI
https://doi.org/10.5712/rbmfc17(44)3233
Journal volume & issue
Vol. 17, no. 44

Abstract

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Introdução: A população em situação de rua é vulnerabilizada por diversos fatores que determinam ou condicionam sua saúde e ocasionam aumento dos índices de comorbidades clínicas, entre elas as doenças mentais, crônicas e infectocontagiosas. A marginalização dos indivíduos que se encontram em situação de rua abre uma lacuna na assistência em saúde que, por vezes, é suprida por organizações sem fins lucrativos que exercem um papel social elementar. Objetivo: Mapear o perfil clínico da população em situação de rua de Curitiba (PR) atendida por iniciativa voluntária no período de um ano. Métodos: Trata-se de um estudo observacional descritivo de base documental realizado com fichas clínicas dos 509 pacientes maiores de 18 anos e que tiveram seu primeiro atendimento médico realizado pela Associação Médicos do Mundo, filial Curitiba (PR), no ano de 2019. Resultados: Indivíduos do sexo masculino, de etnia branca, faixa etária entre 36 e 45 anos, que cursaram o ensino fundamental e que se encontravam havia menos de um ano em situação de rua foram as condições sociodemográficas predominantes. As principais queixas motivadoras da procura pelo atendimento foram dor (45,19%), lesões cutâneas (15,71%) e queixas oftalmológicas (6,68%). Parte dos indivíduos mostrou acometimento crônico por hipertensão arterial sistêmica (9,03%), HIV/AIDS (3,53%) e diabetes mellitus (3,53%). Também foi identificada quantidade significativa de relatos de histórico de traumas físicos (59%). Encontrou-se correlação estatística entre hipertensão e medicamentos de uso contínuo (p=0,001). Menos que 10% dos indivíduos procuraram atendimento médico por queixas de saúde mental. Das mulheres que fizerem parte do estudo, 70% relataram fazer uso de substâncias e aproximadamente metade delas, uso regular de medicamentos. Já o uso de anticoncepcionais foi relatado por uma minoria delas (18,57%). Conclusões: As queixas de dor, as lesões cutâneas e as demandas oftalmológicas foram os principais motivadores da procura por ajuda médica pela população em situação de rua, além da prevalência de hipertensão arterial sistêmica como doença crônica. Os achados podem auxiliar e direcionar ações em saúde voltadas para essa população marginalizada.

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