Revista Brasileira de Geomorfologia (Oct 2020)

EVENTOS QUATERNÁRIOS DE ENTULHAMENTO E CONFIGURAÇÃO DE FUNDOS DE VALE NA BACIA DO RIO PARAOPEBA – CRÁTON DO SÃO FRANCISCO, SUDESTE DO BRASIL

  • Alex de Carvalho,
  • Antonio Pereira Magalhães Junior,
  • Letícia Augusta Faria de Oliveira

DOI
https://doi.org/10.20502/rbg.v21i4.1580
Journal volume & issue
Vol. 21, no. 4

Abstract

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Neste artigo, buscou-se reconstituir os eventos quaternários de entulhamento sedimentar e a consequente configuração morfogenética de fundos de vales na bacia do rio Paraopeba, Cráton do São Francisco, Minas Gerais. Foram investigados os processos morfogenéticos e o contexto geomorfológico relacionados à formação, arranjo espacial e evolução dos espessos depósitos de sedimentos fluviais presentes nos fundos dos vales fluviais de afluentes do Médio e Baixo rio Paraopeba, MG. Na maior parte dos vales analisados, foram encontrados até três níveis deposicionais fluviais: a planície de inundação, um terraço preservado e um nível deposicional alterado pelo coluvionamento (N1, N2 e N3, respectivamente). A partir da análise do arranjo espacial dos níveis deposicionais, da granulometria e da organização das fácies dos depósitos fluviais, propõe-se que ocorreram na região ao menos quatro eventos sedimentares regionais (ESR1, ESR2, ESR3 e ESR4), que podem ser associados ao controle litoestrutural e tectônico. O ESR1 corresponde ao evento mais antigo e é representado pelos depósitos de N3. Esses depósitos apresentam indícios de condições de deposição com maior energia. Os eventos ESR2 e ESR3 são representados pelos N2 dos médios cursos e dos N2 dos baixos cursos dos afluentes da margem direita, respectivamente. O ESR4 está associado à formação dos N1 nos baixos cursos dos vales investigados. Os eventos de sedimentação locais estão associados à formação dos N2 e N1 nos altos cursos dos ribeirões do Ouro e das Lajes e dos N1 nos médios cursos de todos os afluentes, que podem corresponder a eventos deposicionais cronologicamente diferentes. Considerando os níveis deposicionais escalonados, a organização da drenagem e os resultados da análise morfométrica, é possível inferir que o condicionamento tectônico foi responsável por soerguimentos e/ou basculamentos na região. O rico quadro estrutural foi herdado dos ciclos Transamazônico e Brasiliano. Ele é composto por falhas e zonas de cisalhamento que foram reativadas ao longo do tempo geológico e podem favorecer o controle tectônico regional. Por outro lado, o controle litológico tem papel importante na organização dos depósitos fluviais. Os diques básicos e os veios de quartzo exercem são responsáveis pelo estabelecimento de níveis de base locais em alguns trechos dos cursos fluviais e favorecem a preservação de depósitos de N2 em níveis altimétricos distintos. Os dados da datação por LOE sugerem que o ESR2 ocorreu entre 17.600 ± 2.780 e 15.800 ± 2.500 anos AP, o evento de sedimentação dos N2 nos trechos de Alto curso dos ribeirões do Ouro e das Lajes ocorreu 6.250 ± 1.100 e 2.850 ± 420 anos AP e o ESR3 ocorreu entre 2.750 ± 420 e 1.250 ± 190 anos AP.

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