Signo (Jul 2012)
O FINNEGANS WAKE DE JAMES JOYCE: INCOMPREENSIBILIDADE, PLURALIDADE DE SENTIDOS E PROXIMIDADE COM A POESIA
Abstract
O presente trabalho tem como objetivo pôr em discussão a linguagem da obra Finnegans Wake (1939) do autor irlandês James Joyce, pensando-a através do conceito da “palavra faltante” (“lacking word”), expresso por George Steiner em Depois de Babel, como definidor da produção poética ocidental a partir da década de 1870, evidente a princípio sobretudo nos poemas de Rimbaud e Mallarmé, em que a dificuldade que o texto apresenta ao leitor é de uma ordem diferente da suscitada por toda a literatura produzida anteriormente. A essa noção articulamos a de “obra aberta” de Umberto Eco e os contrastes entre linguagem poética e linguagem ideológica, conforme definidos por George Steiner, Terry Eagleton e Stewart Curran, presentes em germe desde o segundo momento do romantismo inglês em Percy Bysshe Shelley (Prometeu Desacorrentado, 1820) e seu “apocalipse humanista”. Joyce, como romancista, com frequência é visto em oposição a Mallarmé, poeta, proferidor da máxima do dever de se “purificar as palavras da tribo”, tornadas desgastadas e esvaziadas de seu sentido pelo uso do cotidiano. No entanto, comparado aos outros romancistas do período, como William Faulkner (O Som e a Fúria, 1929, Enquanto Agonizo, 1930), e mesmo com sua própria produção anterior (O Retrato do Artista Quando Jovem, 1916, Ulisses, 1922), em muitos aspectos, Joyce, no trabalho com a linguagem do Wake, vai além da prosa romanesca e da adaptação da técnica literária à representação mimética. Assim, ele se aproxima da linguagem poética, valendo-se de técnicas chamadas já de “palavras-valise”, “trocadilhos” ou “ideogramas” e de chaves de leitura fornecidas pelo próprio texto para gerar significados a partir dessas palavras, numa liberdade de atribuição de sentidos por parte do leitor fundamentada na comunicação incompleta e limitada quase que unicamente pela rígida estrutura do texto.