Geochimica Brasiliensis (May 2017)
Biodisponibilidade de contaminantes em solos brasileiros tratados com lodo de esgoto: uma abordagem ecotoxicológica utilizando bioensaios com organismos aquáticos e edáfi cos
Abstract
O lodo de esgoto (LE) é um resíduo gerado em estações de tratamento de efl uentes domésticos e tem sido, comumente, empregado como insumo na agri-cultura e recuperação de áreas degradadas. Por outro lado, a presença de agentes tóxicos, nesses materiais, incluindo metais pesados, pode causar sérios danos à saúde humana e ambiental. O presente trabalho propõe a avaliação ecotoxicoló-gica de latossolos e chernossolos tratados com LE, utilizando testes agudos com microcrustáceos aquáticos (Daphnia similis), testes crônicos com algas clorofí-ceas (Pseudokirchneriella subcaptata) e testes de bioacumulação de metais com oligoquetas (Eisenia andrei). Os ensaios agudos com microcrustáceos revelaram que a dose recomendada para emprego na agricultura (6,66% para o latossolo, e 6,58% para o chernossolo) não foi capaz de causar a imobilidade dos organis-mos. Os bioensaios crônicos com algas demonstraram que, no latossolo, todas as doses testadas (6,66 e 13,32%) foram capazes de inibir, signifi cativamente, a reprodução dos organismos. Em geral, níveis maiores de toxicidade, tanto aguda, quanto crônica, foram observados para o latossolo. Essa constatação sugere que a abundância de argilominerais expansivos no chernossolo, associada à sua elevada fertilidade, parece ser capaz de reduzir a toxicidade e a biodisponibilidade dos contaminantes. O teste de bioacumulação com oligoquetas indicou a acumulação preferencial de metais essenciais e chumbo, bem como possíveis efeitos na re-produção dos organismos. Por fi m, espera-se que os resultados possam subsidiar o estabelecimento de doses ideais de LE capazes de refl etir as principais classes de solos brasileiros, fornecendo suporte fundamental à tomada de decisão em programas de controle ambiental.