Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
DESENVOLVIMENTO DE ÍNDICE PROGNÓSTICO PARA PACIENTES ADULTOS COM LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA NA REALIDADE NACIONAL
Abstract
A Leucemia linfoblástica aguda (LLA) está associada a menor sobrevida global (SG) e livre de progressão (SLP) em adultos devido a múltiplos fatores de risco e menor tolerância aos protocolos de quimioterapia. A estratificação prognóstica influencia a escolha terapêutica, incluindo a indicação do transplante alogênico de células tronco hematopoiéticas (alo-TCTH). Com objetivo de determinar um índice prognóstico integrando os fatores de risco para sobrevida em LLA, foi realizada análise multicêntrica aplicando escore prognóstico estabelecido internacionalmente. Material e métodos: Estudo multicêntrico, retrospectivo, com revisão de 115 prontuários de adultos com LLA, incluindo variáveis de risco: idade, leucometria, classificação citogenética, DRM, alo-TCTH, desfechos clínicos e seguimento. O índice prognostico foi calculado individualmente e através de análise multivariada foram calculados os coeficientes odds ratio/ hazard ratio (HR/OR) com inclusão da idade e alo-TCTH. Posteriormente, os casos foram classificados em 3 categorias de risco prognóstico. Os métodos de regressão logística, modelo de Cox, Kaplan meier, logrank e regressão risco competitiva foram utilizados nas análises. Resultados: Dos 115 pacientes, 53,0% eram LLA-B; 21,7% LLA-T; 3,5% LLA-bifenotipica e 21,7%LLA-B Ph-positivo; média idade 41.6 anos; mediana leucometria 13.200/mm3; 19% com infiltração de sistema nervoso central; 38% citogenética de alto risco. Em relação ao tratamento, 56,4% (62/110) foram com protocolos inspirados pediatria, 21,8% não inspirados e 21,8% com inibidores de tirosina-quinase. Quanto a resposta, 44,1% (30/68) atingiram DRMneg pós indução e 65,6% (40/61) pós consolidação; 42% dos casos fizeram alo-TCTH em primeira remissão. Com mediana de seguimento de 1,7 anos, SG em 2 anos foi de 49% (95%IC 38-59%) e SLP de 41% (95%IC 30-51%). Incidências estimadas de recidiva e óbito por tratamento foram: 26% e 33%, respectivamente. Conforme índice prognóstico, pacientes foram estratificados em 3 grupos de risco, 26,7% (28/105) baixo, 34,3% intermediário e 39,0% alto. SLP 2 anos foi significativamente maior no grupo de baixo risco (68.2% - 95%IC 83.6-44.3%) em relação ao intermediário (46.8% - 95%IC 63.9-27.7%) e alto (20.9% - 95%IC 37.7-8.8%), p: 0.0001. Comparando tratamento, SLP 2 anos grupo tratado protocolos inspirados pediatria foi 45,4% versus outros 18,4%, p < 0.001. Nas categorias de risco intermediário e alto, SLP 2 anos no grupo alo-TCTH foi 52.4% (95%IC 71.8-33.4%) versus grupo quimioterapia: 13.9% (95%IC 32.1-3.2%), p: 0,004. Discussão: O índice de prognóstico modificado foi capaz de refinar a SLP esperada em cada categoria de risco, auxiliando no tratamento e indicação de alo-TCTH. Como limitações, trata-se de um estudo com amostra heterogênea, com centros de realidades distintas e seguimento relativamente curto. Os dados referentes a SLP no grupo alo-TCTH versus quimioterapia precisam ser interpretados com cautela, pois estão sujeitos a viés, uma vez o transplante seleciona um grupo mais favorável. É indicado validação em amostra maior e prospectivamente. Conclusão: A incorporação dos principais fatores de risco na LLA e o papel do alo-TCTH na realidade nacional, em um índice prognóstico para adultos pode estratificar de forma significativa a SLP dos pacientes em 3 categorias de risco e auxiliar na tomada de decisão clínica.