Cadernos de Linguística (Jan 2021)

Discurso, estrutura e história

  • José Luiz Fiorin

DOI
https://doi.org/10.25189/2675-4916.2021.v2.n1.id291
Journal volume & issue
Vol. 2, no. 1

Abstract

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Mostra Paul Ricoeur que o sentido do discurso se constrói, de um lado, por meio de coerções internas e, de outro, pela relação com outros discursos. Isso significa que ele é, ao mesmo tempo, integralmente linguístico e inteiramente histórico. Em outras palavras, é uma estrutura e um objeto histórico. Este texto pretende mostrar que na análise discursiva é preciso, de um lado, levar em conta os mecanismos linguísticos de organização discursiva; de outro, sua historicidade constitutiva. O texto, manifestação do discurso, não é uma grande frase nem um amontoado de frases, mas possui uma organização semântica própria. O discurso, por sua vez, não é reflexo de acontecimentos externos a ele. Por isso, estudar seu caráter histórico não é contar anedotas sobre suas condições de produção nem inventariar as referências que são feitas a fatos ocorridos na época em que foi produzido. A partir do conceito bakhtiniano de dialogismo, é preciso considerar que o discurso é histórico porque se constitui numa relação de conflito com outros discursos. Perceber esse movimento de contradições é que permite apreender a historicidade intrínseca do sentido, que se constitui historicamente. A historicidade atinge também a estrutura, pois ela é um modo de organização peculiar a uma dada formação discursiva. Assim, não existe uma dicotomia entre estrutural e histórico, pois a estrutura é histórica.

Keywords