Pós: Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP (Jun 2011)

Espaço e interações na historiografia da arquitetura moderna brasileira

  • Anat Falbel

DOI
https://doi.org/10.11606/issn.2317-2762.v18i29p34-52
Journal volume & issue
Vol. 18, no. 29
pp. 34 – 52

Abstract

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A multiplicação das referências espaciais no pensamento contemporâneo impôs limites às epopéias desenvolvidas conforme a trajetória de suas narrativas, ou seja, a partir da crença que o tempo da história poderia atravessar o espaço seguindo uma direção preestabelecida e unívoca¹ . Considerando que o conceito de espaço, ao contrário, implica simultaneamente mobilidade e encontro, este último entendido de forma dialógica, o presente texto pretende exercitar uma abordagem espacial em uma análise historiográfica específica: a construção da narrativa da moderna arquitetura brasileira. Para tanto, o conceito de espaço será operado a partir de três abordagens distintas. A primeira delas diz respeito à posição e ao contexto a partir do qual essa construção foi desenvolvida, ou seja, considerando a posição ocupada por seu principal propositor, o arquiteto Lucio Costa, durante a efervescência cultural da década de 1930, e o viés autoritário, nacionalista e populista que marcou a cultura durante o período do Estado Novo (1937-1945). A segunda abordagem relacionada à geografia cultural analisa o modo pelo qual o historiador compreendeu o conceito de história e operou as idéias de transferências, trocas e diálogos, seja no espaço cultural contemporâneo, seja entre o passado e o presente histórico. Os compromissos de Costa com a asserção de uma identidade nacional, conforme sugere a relação figural traçada pelo historiador entre arquitetura colonial e arquitetura moderna, emergem no confronto com as elaborações de caráter supranacional dos americanos George Kubler e Robert Chester Smith - seus contemporâneos nos estudos da arte e da arquitetura colonial latino-americanas - elaborações essas permeadas pelo humanismo europeu que alcançou a América junto dos intelectuais exilados durante o período do entreguerras. E, finalmente, a terceira abordagem proposta introduz a noção de diálogo cultural, conforme com a tradição das formulações teórico-espaciais de Georg Simmel e Martin Buber.

Keywords