Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
CASO RARO DE LEUCEMIA LINFOBLÁSTICA AGUDA B COM TRANSLOCAÇÃO BCR::ABL1 P190 E VARIANTE FLT3-ITD EM PACIENTE DE MANAUS, AMAZONAS
Abstract
Introdução: A Leucemia Linfoblástica Aguda de linhagem B (LLA-B) é um tipo agressivo de câncer hematológico, caracterizado pela rápida proliferação de linfoblastos na medula óssea (MO), sangue periférico (SP) e sítios extramedulares. É a forma mais comum de leucemia pediátrica, embora adultos também possam ser diagnosticados com a doença, com uma menor incidência. Quando associada ao cromossomo Filadélfia (Ph) positivo, especialmente a isoforma p190, a doença se torna ainda mais agressiva e desafiadora. Além disso, a presença da variante FLT3-ITD pode contribuir para essa agressividade. A variante FLT3-ITD é mais frequentemente associada à leucemia mieloide aguda (LMA), embora haja alguns casos relatados de sua presença em LLA-T. No entanto, na LLA-B, a relação com FLT3-ITD ainda não foi descrita, sem casos relatados associados à translocação BCR::ABL1 p190, destacando a raridade desse evento. Materiais e métodos: Neste estudo, descrevemos um caso de LLA-B em uma mulher de 26 anos que evoluiu para óbito. O caso foi associado à translocação BCR::ABL1 p190 e à variante FLT3-ITD, com tratamento realizado na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (FHEMOAM). Todos os dados clínicos e laboratoriais foram extraídos dos prontuários eletrônicos gerenciados pelos sistemas Softlab e iDoctor. Resultados: Paciente do sexo feminino, 26 anos, apresentou febre, dor de dente e tonturas dois meses antes do diagnóstico. Hemograma em junho de 2022 revelou leucopenia (1630/mm3), linfocitose (1500/mm3), hemoglobina (9,1 g/dL), hematócrito (27,6%) e plaquetas (116.000/μL). Mielograma subsequente mostrou medula substituída por blastos linfoides, compatível com LLA L2. A imunofenotipagem indicou marcadores de linhagem B: cCD79±, cCD19++, CD9±, CD10++, CD81+. Cariótipo hiperdiplóide revelou 52 cromossomos, incluindo trissomias e cromossomo Ph (translocação 9;22). Ao diagnóstico foi identificada a translocação BCR::ABL1 p190 por RT-PCR onde detectou-se 53,091% de transcritos (nesse instante ainda não havia sido detectada a variante FLT3-ITD), a paciente foi submetida a tratamento quimioterápico para que fosse encaminhada para transplante de medula óssea (TMO) em primeira remissão. No entanto, em janeiro de 2024 apresentou recaída medular e nessa ocasião apresentou translocação BCR::ABL1 p190 e variante FLT3-ITD positiva, seguido de hemograma com leucopenia (760/mm3), linfopenia (30/mm3), hemoglobina (7,9 g/dL), hematócrito (21,2%) e plaquetas (26.000/μL). Discussão: A paciente iniciou tratamento GMALL, seguido por HIPER CVAD com dasatinibe (5 ciclos). Posteriormente, foi submetida a 2 ciclos de Mito-FLAG mais dasatinibe e, ao final, ainda apresentou 68% de blastos na MO. Paciente não chegou a ser submetida a TMO por manter doença residual mínima positiva ao final das linhas de tratamento utilizadas. A variante FLT3-ITD tem uma característica relevante de impulsionar o crescimento descontrolado de células leucêmicas, o que pode estar correlacionado a uma contínua atividade da doença, não alcançando a remissão com nenhuma das combinações medicamentosas utilizadas. Conclusão: Após o diagnóstico da variante FLT3-ITD, a paciente evoluiu para óbito dois meses depois, apresentando intensa leucopenia no SP e contínuo aumento de blastos na MO.