Nova Revista Amazônica (Apr 2018)
RELIgIOSIDADE, CULTURA E IDENTIDADE: FESTIVIDADE DE SÃO BRáS NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO JACAREQUARA EM SANTA LUZIA DO PARÁ
Abstract
Para Geertz (1989) a religião produz uma visão de mundo que informa o comportamento humano, assim, neste trabalho investigamos as ligações entre religião, cultura e identidade, tendo como mote as manifestações da religiosidade em uma comunidade de remanescentes, visando compreender como os seus membros pensam e se organizam na festividade de São Brás, que marca o calendário religioso anual em Jacarequara. Essa festa de santo possibilita-nos refletir sobre: a) formas de organização social e identificação como grupo; b) tensões e disputas dentro e fora da comunidade em torno do sagrado e do profano. Vale destacar que a festividade é produto da agência de leigos, na qual o caráter sacro, mas contornado de hibridismos, é evidenciado na ladainha de São Brás, e o lado profano se revela mais claramente na festa de aparelhagem (dançante) que ocorre na sequência. Resumidamente, concordamos com Maués (1995) quando diz-nos que os leigos fazem a festa de santo nessa manifestação de catolicismo popular eivada por hibridismos ou mesclas culturais e queremos entender em que sentido isso demarca o auto-reconhecimento como grupo para descendentes de africanos escravizados ali existentes a partir dos saberes produzidos cotidianamente e, mais atualmente, num retorno ao passado para marcar um pertencimento étnico que lhes garante direitos.