Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
PLASMAFÉRESE PRÉ-TMO DEVIDO INCOMPATIBILIDADE ABO MAIOR
Abstract
Objetivo: Relatar a redução efetiva de isoaglutinina Anti-A previamente ao Transplante de Células Tronco Hematopoiéticas (TCTH) com incompatibilidade ABO-maior. Metodologia: Os dados foram obtidos por meio de revisão do prontuário e entrevista do paciente Relato de caso: Paciente feminina, 54 anos, diagnóstico de Anemia Aplástica grave sem resposta a imunossupressão e com proposta de TCTH alogênico. Doador aparentado, HLA idêntico, do grupo A RhD(+) e paciente do grupo O RhD(+) com título de anti-A IgG 4096 e IgM 512. Indicada a redução de isoaglutininas por plasmaférese. Três procedimentos foram inicialmente realizados 10 dias antes do regime de condicionamento (com redução do Anti-A/IgG de 4096 para 32) e mais três sessões foram realizadas do D-2 ao D0 (com redução do Anti-A/IgG de 256 para 16). A infusão se deu após a última sessão. Utilizou-se Plasma Fresco Congelado (PFC) do grupo A como fluido de reposição e processamento de uma volemia. Discussão: A incompatibilidade ABO-maior ocorre em cerca de 20% a 25% dos TCTH e está associada a hemólise, atraso na enxertia eritróide, Aplasia Pura da Série Vermelha e consequente aumento das demandas transfusionais e seus efeitos indesejáveis. Essas complicações ocorrem pela presença de isoaglutininas específicas contra o doador (DSI) no plasma do receptor e o risco é maior quando em títulos elevados e quando incompatibilidade mediada por anti-A. Acredita-se que os títulos de anticorpos da classe IgG (e não IgM) são melhores preditores da demanda transfusional pós-transplante. A plasmaférese é uma forma de reduzir isoaglutininas e pode ser considerada quando títulos ≥32, embora variabilidade exista entre os centros e diferentes técnicas de titulação como tubo ou gel. Os procedimentos são realizados diariamente com objetivo de reduzir o título para <16 imediatamente antes da infusão. A técnica é mais eficiente para redução de anticorpos da classe IgM por sua localização eminentemente intravascular, porém mais procedimentos são necessários para depleção dos anticorpos da classe IgG. Uma forma de depletar ainda mais o anti-A é a escolha do PFC grupo A ou AB devido a ocorrência de antígenos A solúveis nestes fluidos, capazes de neutralizar o anticorpo remanescente. As quantidades de antígeno A solúvel não maiores no plasma A do que no AB uma vez que não há competição entre as glicosiltransferases A e B sobre a substância precursora H1 presente nos indivíduos secretores. Esta diferença entre os PFCs A e AB, no entanto, é clinicamente irrelevante quando o paciente é do grupo O devido ao anticorpo anti-A,B que pode ser neutralizado por ambos antígenos solúveis A e B. Portanto, a escolha do PFC A contribui com a melhor manutenção dos estoques de plasma AB, por sua vez de menor disponibilidade e de maior consumo no cenário do trauma até que os testes pré-transfusionais permitam liberar componentes isogrupos. Conclusão: Esse caso demonstra a efetividade da estratégia de se realizar plasmaférese com PFC A para pacientes O com altos títulos de isoaglutinina anti-A/IgG no cenário da incompatibilidade ABO-maior no TCTH alogênico. Três procedimentos foram capazes de reduzir os títulos de 4096 para 32 na fase pré-condicionamento e de 256 para 16 imediatamente antes da infusão das Células Progenitoras Hematopoiéticas.