Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)
IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NAS INFECÇÕES DE CORRENTE SANGUÍNEA EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Abstract
Introdução: As infecções da corrente sanguínea (ICS) estão entre as infecções mais graves adquiridas por pacientes hospitalizados que necessitam de tratamentos intensivos (UTIs). Atualmente, estamos vivendo uma pandemia de COVID-19 e o Hospital São Paulo - Unifesp é um importante centro de tratamento para estes pacientes. Objetivos: Analisar o impacto das ICS em pacientes internados em UTIs de um hospital universitário; identificar quais são os padrões de prescrição médica empírica de antibióticos em ICS e quais são os fatores para letalidade nos pacientes observados; avaliar o impacto das ICS primárias em pacientes com diagnóstico de COVID-19. Casuística e métodos: Estudo tipo coorte, com o período de 01/2020 a 12/2020. Local: UTIs do Hospital Universitário HSP-Unifesp (120 leitos). Os dados foram coletados por vigilância prospectiva de pacientes com ICS pelo prontuário eletrônico com o apoio da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HSP-Unifesp. O acompanhamento dos casos foi realizado até 30 dias após o resultado positivo no exame de hemocultura para definição dos desfechos. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - Plataforma Brasil sob o número CAAE: 12251219.2.0000.5505. Resultados: Foram 112 casos de ICS em 105 pacientes. Destes, 46 pacientes eram COVID-19 positivos e 59 não tinham infecção por COVID-19 (56,2%). Pacientes COVID-19 positivos apresentaram densidade de incidência de ICS de 9,82 casos ICS/1000 pacientes UTI-dia; e não COVID-19 de 4,97 casos ICS/1000 pacientes UTI-dia; p < 0,001, OR = 1,98 (1,36-2,88)). Ambos os grupos apresentaram alta mortalidade (71,74% COIVD-19 e de 60,01% sem COVID; p = 0,251). O estudo dos pacientes com ICS, em relação com seus desfechos, independente do COVID-19, mostrou que maiores índices no score APACHE II, aplicado nas primeiras 48 horas da admissão, tiveram menor sobrevida (média 17,74 pontos no grupo com óbito e 11,47 pontos no grupo com alta; p < 0,001, OR = 0,84 (0,78-0,91)). A vigência de um tratamento empírico correto à ICS apresentou maior sobrevida (33,33% no grupo alta e 10,14% com óbito; p = 0,003; OR = 4,42 (1,55-12,58)). Conclusão: O estudo mostrou elevada mortalidade geral associada às ICS. Índices mais elevados no score APACHE II estavam relacionados à maior mortalidade. A vigência de uma terapia empírica adequada esteve relacionada à maior sobrevida. Observamos que a infecção pelo SARS-CoV-2 é uma variável de maior risco de ICS com elevada morbimortalidade.