Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
IMPACTO NA PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA DO HIV, HBV, HCV E SÍFILIS EM DOADORES DE SANGUE DE SÃO PAULO COM A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA QUE EXCLUIU A INAPTIDÃO TEMPORÁRIA DE HOMENS QUE FAZEM SEXO COM OUTROS HOMENS (HSH)
Abstract
Objetivos: A recusa temporária de 12 meses para a doação de sangue de homens que fazem sexo com outros homens (HSH) foi retirada em 2020 com a RDC no399 de 07 julho. O objetivo do nosso estudo foi comparar a prevalência e a incidência dos HIV, HBV, HCV e Sífilis antes e após a mudança dessa legislação. Materiais e métodos: Neste estudo retrospectivo, transversal, analisamos as doações que apresentaram positvidade na triagem sorológica/ molecular para os marcadores do HIV, HBV, HCV e Sífilis em nosso serviço. Os dados foram divididos em dois períodos: período (1) anterior à mudança de legislação (de janeiro de 2019 a junho de 2020) e período (2) após a mudança (de julho de 2020 a dezembro de 2023). Foram considerados positivos os casos com dois ou mais resultados reativos na amostra da doação e os casos confirmados na amostra do retorno do doador. Para aqueles doadores que não retornaram e apresentaram reatividade em apenas um marcador sorológico, utilizamos o seguinte critério para positividade: S/CO ≥ 4 para HCV e S/CO ≥ 10 para HIV e Sífilis. A estimativa de prevalência foi calculada em doadores de primeira vez e a de incidência em doadores recorrentes (a soma dos doadores de repetição e esporádicos). O cálculo de pessoas-ano foi obtido multiplicando o índice inter-doação de 0,6 anos (Almeida-Neto et al., 2012) pelo numero de doadores recorrentes de cada período (Velati et al., 2019). O valor de p < 0,05 foi considerado como estatisticamente significante no teste Qui-quadrado de Mantel-Haenszel. Resultados: Analisamos 171.690 doações de sangue no período antes da mudança da resolução e 388.838 doações no período depois da mudança da legislação. Dessas, em média, 39,5% foram de doadores de primeira vez, 30,4% de repetição e 30,4% de doadores esporádicos. As prevalências encontradas nos períodos antes/depois foram: 0,046% vs. 0,044% para HIV (p = 0,386), 0,033% vs. 0,028% para HBV (p = 0,239), 0,094% vs. 0,073% para HCV (p = 0,048) e 0,746% vs. 1,116% para Sífilis (p < 0,001). As incidências em 100.000 pessoas-ano nos períodos antes/depois foram: 19,49 vs. 18,96 para HIV (p = 0,468); 1,62 vs. 0,70 para HBV (p = 0,271); 11,37 vs. 4,92 para HCV (p = 0,053) e 300,44 vs 335,75 para Sífilis (p = 0,099). Discussão e conclusão: Nos dois períodos analisados não houve alteração na prevalência e incidência do HIV e HBV, mas verificamos uma redução estatisticamente significante da prevalência de HCV e um aumento na de Sífilis. O aumento de prevalência observado pode estar associado ao aumento da incidência de Sífilis na população geral, que vem sendo observada mundialmente, ou devido à mudança na legislação ou as duas opções. Os homens foram a maioria nos casos Sífilis positivos nos dois períodos 56% vs. 53%, entretanto mais estudos avaliando a população de HSH são necessários para corroborar a mudança da legislação com o aumento da prevalência de sífilis em doadores HSH. Podemos concluir que a eliminação da recusa temporária de HSH não causou impacto significativo no risco de transmissão transfusional do HIV, HBV e HCV, tendo em vista que a incidência de infecção por estes patógenos não foi significante. Entretanto, os bancos de sangue devem manter vigilância ao aumento dos candidatos a doação positiva para Sífilis, pois representam grupos com risco aumentado para outras infecções sexualmente transmissíveis.