Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
É POSSÍVEL MELHORAR A PROFILAXIA DE TROMBOEMBOLISMO VENOSO EM PACIENTES CLÍNICOS? RESULTADOS DE ANÁLISE RETROSPECTIVA EM UM HOSPITAL DE ENSINO
Abstract
Objetivos: Avaliar a frequência da utilização de profilaxia de tromboembolismo venoso (TEV) em uma coorte de pacientes clínicos através da aplicação de ferramentas de acesso de risco trombótico e risco hemorrágico. Material e métodos: Realizada análise observacional, longitudinal e retrospectiva dos dados de prontuários de pacientes internados nas enfermarias de Clínica Médica (CM) de Hospital de Ensino da Região Metropolitana da Baixada Santista, de janeiro a março de 2022. Os critérios de elegibilidade foram idade ≥ 18 anos e internação em enfermaria de CM com período mínimo de 24 horas após admissão hospitalar. Foram excluídos da análise pacientes com diagnóstico de COVID-19 e pacientes submetidos a cirurgia. Para adequada avaliação do risco trombótico, aplicamos o Escore de Pádua utilizando dados recuperados de prontuários e, para avaliação do risco hemorrágico, utilizamos o Escore IMPROVE. Foi considerada tromboprofilaxia adequada, o uso de HBPM ou heparina não fracionada, esta especialmente nos pacientes com contraindicação a HBPM, ex, pacientes com clearence de creatinina inferior a 30ml/min. Pacientes que não receberam tromboprofilaxia medicamentosa por contraindicação formal como plaquetometria inferior a 50.000/μL, foram categorizados como adequados do ponto de vista de manejo de profilaxia trombótica. Não foram avaliadas medidas mecânicas de tromboprofilaxia e não observamos alertas eletrônicos em prontuário para otimizar profilaxia de TEV. Resultados: Após análise consecutiva de 191 prontuários, 157 preencheram critérios de inclusão. O tempo médio de internação foi de 22 dias, a maioria dos pacientes eram do sexo feminino (55.7%), com idade entre 41-70 anos (66.5%), 4.4% dos casos apresentava idade > 85 anos. De comorbidades mais prevalentes, 65% tinham câncer em atividade (15.9% hematológica) e 40.1% insuficiência cardíaca ou respiratória. No IMC, 21% tinham sobrepeso e 11.4% obesidade. Cabe ressaltar que 7.6% apresentou hemorragia 3 meses prévios à admissão. Segundo Pádua, 71.9% foram alocados em alto risco trombótico e, dentre esses, 47,6% receberam profilaxia adequada. Quanto ao risco hemorrágico, 28.6% foram alocados como alto risco. Destes, 55,5% foram submetidos a profilaxia medicamentosa. Discussão: Observamos que a maioria da coorte tinha indicação para profilaxia medicamentosa e quase metade não a recebeu. Apesar de se tratar de enfermaria não setorizada, não oncológica, grande parte dos pacientes tinham câncer, agregando maior risco trombótico, dificultando profilaxia, visto temor de evento hemorrágico nestes casos. Não observamos em dados de prontuário referência a indicação ou contraindicação a profilaxia de TEV. Não existe no serviço ferramenta eletrônica de alerta à equipe médica para melhoria do uso de profilaxia de TEV. Os resultados obtidos neste estudo estão de acordo com outros já publicados. Um estudo publicado na Associação Médica Brasileira em 2013, realizado em uma enfermaria de CM na cidade de Marília, evidenciou que quase metade dos 146 pacientes analisados durante internação não receberam correta tromboprofilaxia. Conclusão: Observamos subutilização de profilaxia de TEV, enxergamos potencial de melhora com criação/divulgação de protocolo institucional e utilização de ferramentas eletrônicas na tentativa de diminuição da morbimortalidade relacionada ao TEV.