Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
ASSOCIAÇÃO ENTRE HB S [HBB:C.20A>T (P.E7V)] E HB TSUKUMI [HBB:C.352C>T (P.H118Y)] EM DOIS BEBÊS BRASILEIROS
Abstract
A HbS [HBB:c.20A>T (p.E7V)] é a variante de hemoglobina (Hb) mais prevalente e amplamente estudada devido às complicações clínicas quando em homozigose ou em associação a outra Hbpatia. Descrevemos aqui a associação entre HbS e HbTsukumi [HBB:c.352C>T (p.H118Y)], variante silenciosa, encontrada em dois bebês (P1 e P2) de famílias distintas. Triagem neonatal por focalização isoelétrica (IEF - RESOLVE® Neonatal Hemoglobin Test Kit pH 6-8, Perkin Elmer) de dois bebês, brancos, sexo feminino, com cerca de 50 dias de vida, provenientes do Departamento Regional de Saúde VII do estado de SP, presumidamente não aparentados, apresentou o seguinte perfil: HbS, HbF e HbF-acetilada em concentração maior que a esperada. Cromatografia líquida de alta performance (HPLC - nbs Newborn Screening System, Bio-Rad) revelou padrão diferente de IEF: HbS, HbF e HbA. Os casos foram encaminhados ao Laboratório de Hemoglobinopatias (FCM/Unicamp) para elucidação. Índices hematimétricos de P1 e P2, ambas as mães (MP1 e MP2) e do pai de P2 (PP2) apresentaram padrão normal à exceção de P2 e MP2, com discretas microcitose e hipocromia. Eletroforese em pH alcalino e HPLC de troca catiônica (Variant II, Bio-Rad), revelaram o perfil HbA2, HbS, HbF e HbX (=HbA, com migração/eluição da HbTsukumi concomitante à HbA, como variante silenciosa). Os percentuais de HbS foram 26,4% (P1) e 18,6% (P2) e da variante rara foram de 33,5% (P1) e 25,5% (P2). A presença de HbS foi detectada em MP1 e MP2 e confirmada por teste de solubilidade. PP2 apresentou o perfil eletroforético/cromatográfico: HbA2, HbA + HbX (co-eluição em tempo de retenção inferior à HbA). HPLC de fase reversa (RP-HPLC - Alliance, Waters) revelou a presença das globinas βS e βX (em co-eluição com globina γG) e cadeia γA anômala (P1, P2 e PP2). Sequenciamento de HBB (globina β) confirmou a presença da mutação GAG>GTG no 6ºcódon do referido gene, correspondente à substituição βGlu6Val, da HbS (P1, P2), bem como da mutação CAC>TAC no 117ºcódon, relativa à βHis117Tyr, da HbTsukumi (P1, P2 e PP2), ambas em heterozigose. Sequenciamento de HBG1 (globina γA) apontou a mutação ATA>ACA no 75ºcódon do referido gene, correspondente à substituição γAIle75Tyr, da HbF-Sardinia [HBG1:c.227T>C (p.I76T)] também em heterozigose (P1, P2 e PP2), sugerindo que as mutações relativas à HbTsukumi e F-Sardinia estejam no mesmo alelo. Triagem de talassemia α mais comuns por multiplex Gap-PCR, análise por enzimas de restrição e PCR alelo-específico, detectaram a deleção _α3.7 em heterozigose em P2 e MP2. As crianças foram encaminhadas para o serviço de referência para acompanhamento clínico e, até o momento, seguem sem sintomatologia relevante. De nosso conhecimento, trata-se da primeira identificação da HbTsukumi no Brasil e o primeiro relato desta em associação com HbS. Importante ressaltar que, apesar de não apresentarem alterações clínicas e hematológicas relevantes até o momento, ambas as crianças ainda apresentam elevados níveis de HbF. Considerando que estes possivelmente sejam os primeiros casos da concomitância das variantes, o acompanhamento clínico com o decorrer da idade e completo switch HBG-HBB, será fundamental para determinar aspectos clínicos e hematológicos desta associação, uma vez que a HbTsukumi pode apresentar certa instabilidade em alguns casos. Suporte: FAPESP, CNPq, CAPES, FAEPEX, Educorp-Unicamp.