Sociologias (Jun 2008)
Cotidianos de Manguinhos Day-to-day routine of the Manguinhos Institute
Abstract
O artigo trata do dia-a-dia do Instituto de Manguinhos nas primeiras décadas do século 20, com destaque para as relações de trabalho no interior dos laboratórios. Aquele cotidiano revela que, apesar de sua pequenez, o quadro técnico-científico derivava sua extraordinária produtividade da diversidade de suas atividades. Tratava-se de pessoal dotado de excepcional flexibilidade tanto na ação quanto na eleição de seu objeto de estudo. Dito em bom português, o cientista de Manguinhos era um faz-tudo. Uma hipótese quanto à tamanha flexibilidade relaciona-se à compreensão da ciência local enquanto parte das práticas culturais locais. Seguindo a trilha aberta pelo conceito de homem cordial, conforme definido por Sergio Buarque de Holanda em seu Raízes do Brasil, pode-se perguntar se existiria em Manguinhos a ciência que lhe decorre, a saber, a ciência cordial. O artigo oferece algumas possibilidades de resposta a partir do exame das relações que se estabeleceram entre os cientistas e seus 'subalternos', os ajudantes de pesquisa, nas quais o rigor e o formalismo das práticas científicas de laboratório conviveram com relações patriarcais tipicamente brasileiras.This article examines the routine of the Manguinhos Institute during the first decades of the 20th Century, emphasizing the relationships of work inside the laboratories. This routine reveals that, despite the small size of its technical-scientific staff, the institute's extraordinary productivity resulted from its diversity of activities. They were professionals endowed with exceptional flexibility both in action and in the selection of the object of study. To put it simply, the scientist of Manguinhos did everything. One hypothesis about such flexibility is related to the comprehension of the local science as part of the local cultural practices. Following the path opened by the concept of cordial man, as defined by Sergio Buarque de Holanda in his book Raízes do Brasil (Roots of Brazil), this work wonders if there was in Manguinhos the science that follows him, i.e., the cordial science. The text presents some possible answers drawn from the analysis of the relationships established between the scientists and their `subordinates', the research assistants, in which the rigor and formalism of scientific laboratory practices coexisted with typically Brazilian patriarchal relationships.
Keywords