Forma Breve (Nov 2023)

“Aquiles: figuração da desmesura”

  • Ana Paula Pinto

DOI
https://doi.org/10.34624/fb.v0i19.34744
Journal volume & issue
no. 19

Abstract

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No enquadramento complexo das figuras heróicas da mitologia greco-latina, Aquiles surge como uma das referências mais relevantes da Antiguidade. Essa excepcional popularidade, que permitiu à personagem sobreviver à erosão do esquecimento e exercer incomparável influência sobre o imaginário, deve-se ao facto de Homero o ter escolhido como protagonista da Ilíada, e ter orientado pela intensidade passional da sua ira o ângulo peculiar de perspectivação da Guerra de Tróia, que a Antiguidade considerava o maior evento histórico da Humanidade. Embora a narrativa da Odisseia se centre já na figura de Ulisses, a dupla evocação do guerreiro da ira súbita, das proezas superlativas, e da obsessão com a honorabilidade, já morto, no Hades, em Od. XI e Od. XXIV, concorre para sublinhar na mensagem poética uma tónica moralizadora muito mais positiva e optimista, que transcende o trágico determinismo da Ilíada. Sabemos que o apelo do herói já se exercia sobre o imaginário grego antes do conhecimento regular e universal da poesia homérica o ter referenciado como paradigma heróico, porque o conjunto da chamada Poesia Cíclica- peculiarmente os Cypria, com o detalhar dos antecedentes da guerra de Tróia, e a Aethiopis, com o elenco dos factos que se seguiam aos funerais de Heitor - oferece muitos dos detalhes tradicionais acerca de Aquiles a que Homero apenas discretamente aludiu. Tomando como ponto de partida os Poemas Homéricos, propomo-nos pois abordar as narrativas da reelaboração poética dos Poemas Cíclicos Troianos, amplamente documentadas ainda nas pinturas cerâmicas do período clássico. Essa perpectiva comparativa nos permitirá, em síntese, propor diferentes modelos de abordagem simbólica à figura heróica de Aquiles.

Keywords