Cadernos de Saúde Pública (Dec 2002)
Sexualidade de mulheres vivendo com HIV/AIDS em São Paulo Sexuality of women living with HIV/AIDS in São Paulo
Abstract
O contexto sócio-cultural que aumenta a vulnerabilidade feminina ao HIV não desaparece quando as mulheres vivendo com HIV/AIDS (MVA) se descobrem infectadas. Diagnosticadas, novos desafios vão aparecer na sua vida afetiva, poucos descritos na literatura. Foram entrevistadas 1.068 MVA com a utilização de um questionário composto de questões abertas e fechadas, visando descrever aspectos da sua vida sexual e reprodutiva e como elas percebem o aconselhamento nessa área, quando são atendidas em Centros de Referência, em duas cidades de São Paulo onde têm acesso gratuito aos medicamentos anti-retrovirais. Das mulheres que têm parceiro sexual estável, 63% usam camisinha em todas as relações sexuais, o triplo da média nacional; 43% dos parceiros são HIV negativos, 14% têm sorologia desconhecida; 73% têm filhos e 15% pensam em tê-los. O conhecimento sobre transmissão materno-infantil é menor do que o esperado, e as entrevistadas referem pouco espaço e acolhimento para discutir sexualidade, em especial suas intenções reprodutivas. O aconselhamento sobre sexualidade deve ser um processo contínuo no atendimento e requer o treinamento interdisciplinar dos profissionais atuando em serviços de saúde, com ênfase nos direitos sexuais e reprodutivos.The social and cultural setting which increases female vulnerability to HIV does not disappear when women living with HIV/AIDS discover that they are infected. Following diagnosis, new challenges arise in their emotional lives, an issue which has received little attention in the literature. This study interviewed 1068 women living with HIV/AIDS using a questionnaire consisting of both open and closed questions, aimed at describing aspects of their sexual and reproductive lives and how they perceive counseling at Reference Centers in two cities in the State of São Paulo, where they have access to free antiretroviral therapy. Of the women with stable sexual partners, 63% used condoms in all their sexual relations, or three times the national average; 43% of the partners were HIV-negative and 14% had unknown serological status; 73% of the women had children and 15% were considering becoming pregnant. Knowledge on mother-to-child transmission was less than expected, and the interviewees complained of limited space and receptiveness for discussing sexuality, especially with regard to their childbearing wishes. Counseling on sexuality should be a continuing process and requires interdisciplinary training for the professional team working in health care services, with an emphasis on sexual and reproductive rights.
Keywords