Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

ANÁLISE DOS PARÂMETROS PLAQUETÁRIOS EM PACIENTES COM DENGUE

  • APG Lopes,
  • PS Piroski,
  • MF Moss,
  • DC Kalva

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S161

Abstract

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Objetivos: Avaliar os parâmetros plaquetários em pacientes, com trombocitopenia, infectados pelo vírus da dengue. Material e métodos: Foi realizado um estudo observacional, com dados obtidos do Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG). Os pacientes foram estratificados em dois grupos: 1) Grupo dengue e 2) Grupo controle. Os parâmetros hematológicos como contagem de plaquetas, percentual de fração imatura das plaquetas (IPF%, do inglês Immature Platelet Fraction %), volume plaquetário médio (VPM), amplitude de distribuição das plaquetas (PDW, do inglês Platelet Distribution Width), plaquetócrito (PTC) e percentual de macroplaquetas (P-LCR, do inglês Platelet-Large Cell Ratio), foram obtidos no nadir plaquetário durante o internamento. Resultados: Foram avaliados 54 pacientes no grupo dengue e 33 indivíduos no grupo controle. A idade média dos pacientes com dengue foi 43,7 ± 20,9 anos, sendo 39 (72%) do sexo feminino. A idade média do grupo controle foi 50,8 ± 18,2 anos, sendo 17 (52%) do sexo feminino. Não houve diferença estatística para sexo e idade entre os grupos, demonstrando a homogeneidade da população do estudo. No grupo dengue houve diminuição significativa da contagem de plaquetas (83.000 ± 35.000; 233.000 ± 59.000 células/mm3, p < 0,0001) e do PCT (0,09 ± 0,04; 0,25 ± 0,05, p < 0,0001) com relação ao grupo controle. Ao mesmo tempo, observou-se que os pacientes com dengue demonstraram aumento significativo para os parâmetros plaquetários: IPF% (8,6 ± 4,3; 5,4 ± 2,3%, p < 0,0001), VPM (11,5 ± 1,05; 10,59 ± 0,94 fL, p < 0,0001), PDW (13,8 ± 2,7; 12,1 ± 1,7 fL, p = 0,0006) e P-LCR (36,3 ± 8,3; 28,9 ± 6,9%, p < 0,0001) com relação ao grupo controle. Na análise de correlação entre os parâmetros plaquetários dos pacientes com dengue, observou-se correlação positiva muito forte entre contagem de plaquetas e PCT (r = 0.95; p < 0,0001) e correlação negativa com os demais parâmetros. Adicionalmente, houve forte correlação do IPF% com o VPM (r = 0.87; p < 0,0001) e P-LCR (r = 0.88, p < 0,0001), além de correlação moderada com o PDW (0.66; p < 0,0001). O VPM mostrou correlação muito forte com o P-LCR (r = 0.98; p < 0,0001) e o PWD com o P-LCR (r = 0.74; p < 0,0001). Discussão: O aumento do IPF% reflete a atividade trombopoiética da medula óssea, que atua de forma compensatória em resposta à destruição periférica das plaquetas. O aumento do VPM e do P-LCR indicam que a medula óssea na tentativa de atender à demanda por plaquetas, libera macroplaquetas jovens na circulação, o que consequentemente aumenta o VPM, que é corroborado pela forte correlação positiva entre IPF%, VPM e P-LCR. Além disso, a presença de anisocitose plaquetária é evidenciada pelo aumento do PDW. O VPM, P-LCR e PDW quando aumentados, são fortes indicadores de destruição periférica. O parâmetro PCT é obtido virtualmente a partir da contagem de plaquetas e reflete a proporção da massa plaquetária no volume sanguíneo, assim, a correlação positiva muito forte entre a contagem de plaquetas e o PCT indica que ambos são diretamente proporcionais, e que mesmo com a presença de macroplaquetas, essas estão em quantidade insuficiente para gerar o aumento do plaquetócrito. Conclusão: Há correlação entre os parâmetros plaquetários, sugerindo que o possível mecanismo da trombocitopenia na dengue seja de natureza hiperdestrutiva a nível periférico.