Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO DE HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA NA IMPLEMENTAÇÃO DA TERAPIA COM CÉLULAS CAR-T

  • VRH Nunes,
  • MC Mendonça,
  • FS Ghaname,
  • C Almeida-Neto,
  • MC Braga,
  • VC Molla,
  • BA Souza,
  • CFM Ferreira,
  • EM Almeida,
  • CAR Silva

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S510

Abstract

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Introdução: A terapia com células CAR-T é uma das mais inovadoras e estudadas nos últimos tempos pela área da hematologia. Trata-se de uma imunoterapia em que os linfócitos T são modificados geneticamente, obtendo-se a presença do Receptor Quimérico de Antígeno (CAR), que reconhece as células tumorais promovendo sua destruição. O processo para terapia de células CAR-T contempla a coleta de linfócitos por aférese, manipulação genética dessas células em laboratório de terapia celular, quimioterapia linfodepletora (ciclofosfamida + fludarabina) e por fim, a infusão das células CAR-T. Após a infusão das células, é necessária intensa vigilância quanto ao aparecimento de reações adversas ao medicamento. Dentre essas reações, destacam-se: Síndrome de Liberação de Citocinas (SLC), caracterizada principalmente por febre, hipotensão arterial e hipóxia e a Síndrome de Neurotoxicidade Associada a Células Imunológicas Efetoras, que ocorre, principalmente, nas primeiras duas semanas após a infusão das células CAR-T. Em nosso hospital, foi iniciado o processo de coleta e infusão das células CAR-T em dezembro de 2022. Portanto, apresentaremos a experiência do nosso serviço com a implantação desta terapêutica. Métodos e resultados: Realizamos a coleta de células autólogas, de sete pacientes com diagnóstico de Linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células B refratários/recidivados, com a idade média de 66 anos, no período de dezembro de 2022 a abril de 2023. Destes, em três foram administradas as células CAR-T (Tisagenlecleucel, Kymriah®, Novartis) e nenhum apresentou reação durante o processo da infusão. Foi realizada a administração de difenidramina 50 mg, 30 a 60 minutos antes da infusão em todos os pacientes. Quatro pacientes não receberam as células CAR-T, dentre estes, um evoluiu com progressão da doença, dois evoluíram para óbito (um antes do início da manufatura e o outro antes do término da manufatura) e um paciente ainda aguarda solicitação de manufatura das células CAR-T. A média do CD3+ por coleta foi de 9,2×109 (variando de 4×109 a 26×109). Não foram relatadas reações adversas no momento da coleta das células. O tempo mínimo entre a coleta e a infusão das células CAR-T foi de 73 dias (variando de 73 a 102 dias). Esse tempo foi influenciado, especialmente, pela autorização de operadoras de planos de saúde e pelo processo de manufatura das células. A reação adversa ao medicamento, após a infusão, foi registrada em dois pacientes. Um paciente evoluiu com Síndrome de Neurotoxicidade, com indicação de corticoterapia e o outro paciente foi diagnosticado com Síndrome de Liberação de Citocinas, evoluindo com boa resposta após o uso de tocilizumabe. Após 10 dias da infusão das células, dois pacientes receberam alta hospitalar em bom estado geral e seguem em acompanhamento, mantendo remissão da doença cinco meses e dois meses após a infusão. Um paciente evoluiu para óbito 53 dias após a infusão devido choque séptico. Conclusão: A terapia com células CAR-T é um processo complexo, e deve ser implementado na rede hospitalar por meio de uma equipe multiprofissional, para que minimize os riscos aos pacientes. Também podemos observar que o processo de liberação para terapia demanda tempo, podendo contribuir para que o paciente possa evoluir com a progressão da doença ou óbito antes do início de todo o processo.