Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2024)
OR-39 - PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO E INCREMENTO NO NÚMERO DE CASOS DE MENINGITE TUBERCULOSA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO TERCIÁRIO EM DOENÇAS INFECCIOSAS, DE 2016 A 2023
Abstract
Introdução: A meningite tuberculosa (MTB) é uma doença infecciosa que acomete o sistema nervoso central (SNC), cujo agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis, sendo considerada uma complicação potencialmente fatal. Objetivo: Compreender o perfil clínico-liquórico dos pacientes afetados pela MTB e descrever seu comportamento de acordo com a pandemia do COVID-19. Método: : Trata-se de um estudo retrospectivo, transversal, observacional envolvendo pacientes com diagnóstico de MTB por cultura de micobactérias(MGIT) e/ou métodos moleculares (Genexpert® Cepheid) no período de 2016 a 2023, no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), em Fortaleza, Ceará, Brasil. Resultados: Foram identificados 152 pacientes com diagnóstico de tuberculose(TB) do SNC pelo CID. Foram excluídos pacientes duplicados (n = 31), sem prontuário disponível (n = 27), com diagnóstico de neurotuberculoma (n = 1) e mielite tuberculosa isolados (n = 2). Foram incluídos 91 (60%) pacientes com meningite tuberculosa. A maioria era do sexo masculino (n = 79; 86,8%). A média de idade foi 39,7 anos, mediana 37 (IQR 30,5-47). Foi identificado 29 (31,9%) pacientes com uso de substâncias psicoativas, 6 (6,6%) privados de liberdade, 4 (4,4%) moradores de rua e 9 (9,9%) tiveram contato prévio com TB. As comorbidades foram HIV (n = 69; 75,8%), HAS (n = 11; 12,1%), neoplasia (n = 7; 7,7%) e DM2 (n = 4; 4,4%). Diagnóstico de HIV simultâneo a MTB ocorrem em 25 (27,5%). A carga viral média foi 330500, o maior 3479067 cópias/mm³. O LCD4+ médio foi 124,4, o menor 3 cel/mm³. Os sintomas apresentados foram febre (n = 68; 74,7%), cefaleia (n = 57; 62,6%), desorientação (n = 42; 46,2%), rigidez nucal (n = 20; 22%) e rebaixamento do nível de consciência (n = 18; 19.8%); 31(27,5%) tinham TB pulmonar prévia. TB em outro sítio foi identificado em 25 (27,5%), pulmonar (n = 17; 18,7%), ganglionar (n = 7; 7,7%), óssea (n = 1; 1,1%), intestinal (n = 1; 1,1%) e genitourinária (n = 1; 1,1%). A média de internação foi 25 dias. Os desfechos foram alta (n = 58; 63,7%), óbito (n = 26; 28,6%), transferência externa (n = 4; 4,4%) e não informado (n = 3; 3,3%). A distribuição de casos com o ano de diagnóstico foi 2016 (n = 2; 2,2%), 2017 (n = 12; 13,2%), 2018 (n = 9; 9,9%), 2019 (n = 10; 11%), 2020 (n = 13; 14,3%), 2021 (n = 16; 17,6%), 2022 (n = 16; 17,6%), 2023 (n = 13; 14,3%). Conclusão: A maioria dos pacientes com MTB eram do sexo masculino, tinham imunossupressão pelo HIV, história de TB prévia e eram usuários de substâncias. Percebemos um incremento no número de casos de MTB durante a pandemia de Covid-19. Mais estudos são necessários para compreendermos o motivo deste incremento.