Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)
EXPRESSÃO DE BAFF (B-CELL ACTIVATING FACTOR) E RESPOSTA IMUNE TH2 É MAIOR EM PACIENTES QUE EVOLUEM COM RECIDIVA NA HEMOFILIA A ADQUIRIDA
Abstract
Introdução: A hemofilia A adquirida (AHA) é uma doença autoimune com maior incidência em idosos. Ocorre em decorrência do desenvolvimento de autoanticorpos contra o fator VIII da coagulação (inibidores). Para atingir remissão, os pacientes são tratados com imunossupressão (IS). Há poucos estudos que exploram os mecanismos da resposta imune na AHA. O objetivo desse estudo é determinar o papel dos linfócitos T (através da expressão de suas citocinas) e linfócitos B (por meio da expressão de proteínas que ativam o receptor de células B, como o B-cell activating factor (BAFF) e o A-proliferation inducing ligand (APRIL)), em uma avaliação longitudinal de pacientes com diagnóstico de AHA. Método: Células mononucleares de sangue periférico (PBMC) foram coletadas de pacientes com diagnóstico de AHA em no mínimo dois momentos distintos: (1) ao diagnóstico antes do início da IS (baseline), (2) quando alcançaram remissão completa (RC, com títulos de inibidor 50 UI/dL), ou quando considerado falha do tratamento. Os pacientes que evoluíram com recidiva (inibidor >0,6 UB/mL), nova amostra foi coletada em cada recidiva, antes do reinício da IS. Posteriormente, o PBMC foi descongelado e cultivado em meio RMPI-1640, na proporção de 7,5x105 células/poço em placas de 48 poços. Após 24h, as células foram estimuladas com 1 UI/poço de fator VIII recombinante (rFVIII) ou acetato de miristato de forbol (PMA) (1 μM) com ionomicina (1 μM). Após 24h de incubação, as células foram devidamente marcadas com anticorpos monoclonais anti-CD4, anti-CD25-FoxP3, interleucina (IL)-17a, IL-4, TGF-b, IFN-, TNF-α, IL-21, anti-CD19, BAFF e APRIL e analisadas por citometria de fluxo no citômetro BD FACSCalibur™. Resultados: Foram incluídos no estudo 11 pacientes com diagnóstico de AHA, com mediana de idade de 59 anos (intervalo 9 a 75 anos), onde a maioria eram mulheres (7/11, 63,6%). Entre os fatores etiológicos, 72,7% foram considerados de causa idiopática, seguido de doenças autoimunes (18,2%) e gravidez (9,1%). Todos os pacientes receberam IS, onde oito (72,7%) usaram corticosteroide (CS) e ciclofosfamida (CP), um recebeu apenas CP, um utilizou CS e rituximabe, e um recebeu CS, CP e três ciclos de rituximabe. Destes, todos atingiram remissão completa. No entanto, 4/11 (36,4%) apresentaram pelo menos uma recidiva. Foi observado um aumento significativo da produção de IL-17a nas células estimuladas com rFVIII isoladas no baseline de todos os pacientes em comparação com células de indivíduos saudáveis (p = 0,01). Curiosamente, as células isoladas no baseline de pacientes com recidiva após diferentes tentativas de IS, apresentaram uma diferença significativa para a expressão de IL-4 (p = 0,009), IL-21 (p = 0,02) e TGF-b (p = 0,01) em comparação a células de indivíduos saudáveis. Essa diferença não foi observada no grupo de RC sustentada. Apenas células isoladas no baseline de pacientes com recidiva de AHA (independente do estímulo) apresentaram expressão aumentada de BAFF (p = 0,01 com rFVIII estimulado e p = 0,007 para células não estimuladas) quando comparadas a PBMCs isoladas de indivíduos saudáveis. Conclusão: Nesse estudo, todos os pacientes com AHA apresentaram resposta imune Th17. No entanto, a presença de resposta imune Th2 e aumento da expressão do BAFF ao diagnóstico, foi observado apenas nos pacientes que posteriormente evoluíram com recorrência da resposta autoimune ao FVIII. O BAFF é responsável por controlar a maturação das células B e está associado à produção de autoanticorpos em diferentes condições autoimunes. Nesse estudo, o BAFF se mostrou como potencial marcador para recidiva da AHA.