Ephata (Oct 2022)
Mística ao pé da árvore: elementos teopoéticos no Canto dos Escravizados de Paulina Chiziane
Abstract
«Escreve-te África. A tua História é um baú lacrado aguardando teu labor. Mira-te no espelho do céu, no espelho de Deus. Retrata-te. Escreve-te com verdadeiras letras de ouro no livro da vida» (Escreve-te). Indicada em 2005 ao Prêmio Nobel da Paz, a moçambicana Paulina Chiziane é a primeira mulher a ter um romance publicado em seu país, e articula em sua produção um apelo por uma África livre dos colonialismos que ainda hoje figuram em suas estruturas sociais, políticas, econômicas e mesmo culturais. Sua obra é capaz de conferir não apenas voz, mas espírito ao clamor por liberdade de seu povo. Em sua primeira e recente obra de poesias, O canto dos escravizados (2018), Chiziane conclama seu povo a unir suas vozes para uma vida que reverencie a experiência sagrada de sua cultura, sem as interferências e vilipêndios causados pelas concepções mística e teológica oriundas da colonização europeia. Em diálogo com o conceito de «mística de olhos abertos» de Johann Baptist Metz, sob a metodologia de analogia estrutural, este artigo busca explorar e demonstrar na obra de Chiziane a riqueza teopoética africana a partir da ótica mais adequada e a mais negligenciada ao longo da história, isto é, a dos filhos da África.
Keywords