Revista da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (Apr 2017)

Dermatite de Contacto Alérgica em Profissionais de Saúde

  • Vítor Pinheiro,
  • Catarina Pestana,
  • Francisco Marques,
  • André Pinho,
  • Isabel Antunes,
  • Margarida Gonçalo

DOI
https://doi.org/10.29021/spdv.75.1.718
Journal volume & issue
Vol. 75, no. 1

Abstract

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Introdução: A dermatite de contacto alérgica (DCA) constitui patologia profissional particularmente frequente em profissionais de saúde. Os alergénios responsáveis podem variar ao longe do tempo, com a exposição ocupacional e com o tipo de trabalho. Objectivos e Métodos: Com o objetivo de avaliar a realidade local, foi feita uma análise retrospetiva dos profissionais de saúde que realizaram testes epicutâneos no Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), num período de 6 anos (2010-2015), por suspeita de dermatite de contacto alérgica. Os doentes foram todos testados com uma Série Básica e com séries complementares orientadas pela história clínica. Resultados: Dos 1858 doentes testados, 125 (6,7%) eram profissionais de saúde, 114 de género feminino/11 masculino, idade média de 39,26±12,5 anos, maioritariamente enfermeiras (56), assistentes técnicos (48) e médicos (21), 71 com dermatite das mãos (56.8%), 22 com dermatite atópica e/ou outros sinais de atopia (17,6%). Noventa (72%) revelaram pelo menos um patch test (PT) positivo, 47 dos quais (52,2%) com relevância profissional. Doentes com dermatite das mãos tiveram mais frequentemente PT positivo (76,1%). Os metais causaram maior número de PT positivos (total 51; Ni-41, maioritariamente com relevância passada, Co-8; Cr-2), seguidos das fragrâncias (total 30; mistura de fragrâncias (FM)-I-10; Myroxylon pereirae-8; lyral-5; FM-II-4; citronellol-3), conservantes (total 29, dos quais 20 à metilisotiazolinona (MI) e/ou clorometilisotiazolinona/MI (MCI/MI)), borrachas (24; P-fenilenodiamina (PPD)/Isopropil-PPD-9) e medicamentos tópicos (total 14; iodopovidona 5). As principais causas da DCA profissional foram os desinfetantes/sabonetes líquidos e produtos de higiene dos doentes (15), borracha das luvas/calçado (12) e medicamentos sistémicos ou tópicos (8 antissépticos e 3 antibióticos parentéricos). Os principais alergénios com relevância profissional foram a MI e/ou MCI/MI (15), lanolina (9), formaldeído e/ou libertadores (7), iodopovidona (5), carbamatos (4), FM-I (3), cefalosporinas (3) e acrilatos (3 dentistas e/ou assistentes dentários). Em 37 dos 42 casos avaliados, houve uma melhoria franca ou resolução da DCA, após evicção do alergénio causal, nomeadamente o conservante MCI/ MI contido num sabonete líquido sob a designação de “Acticide® MV”. Conclusões: A dermatite das mãos, a principal apresentação da DCA em profissionais de saúde, não mostrou relação com atopia e foi mais frequentemente associada a PT positivos. PT positivos a isotiazolinonas e libertadores de formaldeído foram mais frequentes entre profissionais de saúde do que na população geral estudada, muito provavelmente devido à exposição cumulativa, pessoal e profissional, a estes conservantes em sabonetes líquidos de uso pessoal e hospitalar. O PT foi crucial para orientar individualmente os doentes e para alertar a comunidade hospitalar para a presença de alergénios no local de trabalho e estabelecer medidas preventivas mais adequadas.

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