Revista Subjetividades (May 2016)
“Paidescendo no paraíso”: uma investigação sobre o pai e a religião na teoria de Freud e Lacan
Abstract
Este artigo, aborda a ligação existente entre a religião e o pai, mais especificamente, a proximidade da imagem de Deus com a imagem de um pai, elucidada por Freud e Lacan. Segundo Freud, o que move o sujeito a procurar a religião é o sentimento de desamparo experienciado na infância, inerente a todo ser humano. Assim, esse autor nos mostra como a religião se utiliza desse fato, trazendo a figura do pai para o centro de suas reflexões. Para pensarmos o pai em psicanálise, é indispensável recorrermos às contribuições de Lacan, que aponta para a pluralização do Nome-do-Pai, o que permite que uma multiplicidade de significantes atue nesse lugar, cabendo a cada sujeito responder o que melhor opera como função paterna. O pai, em Lacan, passa a funcionar como um nó que une os registros Real, Simbólico e Imaginário. Através do conceito de sinthoma, Lacan enfatiza que o pai deve mostrar suas falhas, possibilitando que o filho vá além dele. Porém, esse movimento só se torna possível se o filho tomar o pai como um instrumento a ser usado e ultrapassado. E este é o movimento que a religião não permite que aconteça; ela oferece para o sujeito um Deus- Pai perfeito. Como o referencial paterno tem se enfraquecido nas configurações familiares atuais, é essa imagem de pai que o neurótico busca. No entanto, não é possível ao pai ser a figura pacificadora que o neurótico tanto quer devido às suas falhas, que remetem a uma falta de garantia insuportável para este último. Ao sujeito, então, é oferecido um desafio: liberar-se de seu esforço de recompor o pai, aceitando suas falhas e servindo-se dele sem, apesar disso, servir a ele.