Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
REATIVAÇÃO DE HANSENÍASE DURANTE QUIMIOTERAPIA PARA LEUCEMIA LINFOCÍTICA CRÔNICA - UM RELATO DE CASO
Abstract
Masculino, 62 anos, apresentou-se com linfocitose, linfonodomegalia generalizada, esplenomegalia e perda ponderal progressiva. Foram realizados biopsia excisional e imunohistoquímica de linfonodo que confirmaram diagnóstico de Leucemia Linfocítica Crônica (LLC). Realizadas pesquisaa da mutação TP53, negativa e pesquisa da mutação da cadeia pesada, resultado foi indeterminado. Conforme protocolo institucional foi iniciada quimioterapia com Fludarabina, Ciclofosfamida e Rituximabe. Após dois ciclos, paciente apresentou uma redução de cerca de 90% das linfonodomegalias observadas na admissão e, durante a consulta, referiu surgimento de diminutas lesões nodulares difusas pelo corpo, pruriginosas, predominantes em braços e pernas, associadas a placas eritematosas extensas em joelhos bilateralmente e cerca de 10 lesões planas com bordas pouco elevadas em braços e dorso. Não apresentava sintomas sistêmicos ou manifestações neurológicas. A quimioterapia foi suspensa e o paciente foi submetido a biópsia de pele que evidenciou denso infiltrado inflamatório linfo-histiocitário superficial e profundo, perivascular e perianexial com alguns esboços de granulomas e acometimento perineural. A pesquisa de BAAR foi positiva e a histologia foi compatível com hanseníase de provável classificação dimorfo-virchowiana. Diagnosticado episódio reacional da hanseníase e o paciente foi imediatamente encaminhado para tratamento específico preconizado. A quimioterapia segue suspensa até a estabilização do quadro cutâneo. Discussão: A hanseníase é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente de multiplicação lenta, cuja prevalência é alta principalmente em regiões nas quais existem acesso precário a moradias, alimentação e pobreza, sendo um importante desafio em saúde pública. As reações hansênicas são fenômenos inflamatórios agudos que cursam com exacerbação dos sinais e sintomas da doença e resultam da ativação da resposta imune contra o M. leprae. O episódio reacional pode ser a manifestação inicial da doença ou ocorrer após o tratamento. Episódios de reação reversa são associados a alguns fatores de risco tais como coinfecções, gestação, vacinação e uso concomitante de medicações imunossupressoras, o que torna pacientes oncohematológicos de alto risco para reativação ou aparecimento de infecção latente por hanseníase. O tratamento das reações hansênicas é feito com imunomoduladores e anti-inflamatórios, sendo a prednisona o medicamento de escolha na reação hansênica tipo 1 (reação reversa) e a talidomida na reação hansênica tipo 2 (eritema nodoso hansênico). Conclusão: Considerando um cenário restrito e complexo, as referências não trazem orientação específica quanto a conduta diante de paciente em tratamento oncohematológico que apresenta reativação de hanseníase. A decisão de suspender a quimioterapia por um determinado período deve ser individualizada e envolver uma avaliação multidisciplinar em equipe composta por médicos hematologista, dermatologista e infectologista. Os riscos e benefícios devem ser discutidos, considerando a elevada possibilidade de progressão da doença hematológica. A comunicação clara com o paciente e familiares deve fazer parte da abordagem multidisciplinar.