Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
SEDAÇÃO PALIATIVA: UMA CONDUTA TERAPÊUTICA PARA SINTOMAS REFRATÁRIOS NO FIM DE VIDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Abstract
Objetivos: Identificar e discorrer sobre as recomendações acerca da utilização de sedação paliativa para profissionais de saúde, a fim de aumentar a conscientização dessa terapia e fomentar melhores práticas clínicas perante o sofrimento de pacientes em cuidados paliativos no ambiente de terapia intensiva. Material e métodos: Revisão de literatura do tipo narrativa, utilizando como base publicações das bases de dados BVS, Scielo, Lilacs e PubMed, publicadas entre 2019 e 2024. Resultados: Mesmo com amplos cuidados paliativos, alguns indivíduos em fim de vida apresentam grave sofrimento físico (dor, delirium, vômitos, dispneia), psíquico ou existencial. Isto torna-se angustiante para pacientes e familiares. Quando as terapias disponíveis falham ou mesmo se esgotam, o sintoma é denominado como refratário. Nesses casos, a redução intencional da consciência, denominada sedação paliativa, pode ser indicada. Segundo a Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC), a sedação paliativa é definida como o uso monitorado de medicamentos destinados a induzir um estado de consciência diminuída ou ausente, com o objetivo de atenuar o sofrimento refratário sem encurtar a duração da vida, de forma ética. O respeito à autonomia, beneficência, não maleficência e justiça são garantia para a prática humanizada. As drogas de primeira linha são os benzodiazepínicos, sendo o midazolam o mais utilizado. Também podem ser empregados haloperidol, levomepromazina, fenobarbital e profofol. Discussão: Uma grande conquista para o Brasil foi instituir a Política Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) em 2024. Embora os cuidados intensivos e os cuidados paliativos possam parecer estar em extremos opostos, é necessário somar competências e garantir cuidados integrais e melhor assistência aos pacientes. A sedação paliativa é uma conduta terapêutica legitima e necessária nos cuidados de pacientes com sintomas refratários no fim de vida. Deve ser abordada quando há possibilidade de sofrimento grave no fim de vida, sendo o último recurso de tratamento devido a seus resultados adversos previstos e riscos potenciais, como redução da interação, bradipneia, hipoxemia, apneia e agitação. O paciente deve ser monitorizado com objetivo de garantir conforto. O processo pode ser gerador de angústia para família (tristeza pelo prejuízo na interação com o paciente, pouca compreensão sobre o procedimento, medo de que essa conduta possa acelerar a morte, e luto antecipatório). É indispensável uma ação completa e bem gerenciada por equipe interdisciplinar capaz de desenvolver escuta, apoio espiritual e religioso, psicoterapia e farmacoterapia. Conclusão: A sedação paliativa é uma terapia lícita e moral baseada em evidências, sendo eficaz e de alta complexidade. Traz consigo questões éticas, somáticas, psicológicas, sociais, espirituais e culturais, com demandas de planejamento interdisciplinar e coparticipação de paciente, cuidadores e família. Diante das informações disponíveis atualmente na literatura, observa-se a importância de se incentivar novas pesquisas com esse tema, bem como do estabelecimento de educação permanente em cuidados paliativos para capacitação profissional. Também, a sociedade precisa ser continuamente educada e tabus devem ser exaustivamente combatidos. A construção de um conhecimento sólido e baseado em evidências sobre sedação paliativa trará benefícios na redução de sintomas refratários no fim de vida de pacientes que poderiam se favorecer dessa prática médica.