Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

OCORRÊNCIA DE NEUTROPENIA FEBRIL EM PACIENTES HEMATOLÓGICOS ATENDIDOS PELA FARMÁCIA CLÍNICA: IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO FARMACÊUTICO

  • LP Lindenmeyer,
  • SS Soares

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S887

Abstract

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Objetivos: Identificar o perfil dos pacientes oncohematológicos que desenvolveram neutropenia febril (NF) internados em uma unidade hospitalar e relacionar o desfecho de suas internações. Materiais e métodos: Estudo transversal retrospectivo onde avaliou-se os pacientes internados que desenvolveram NF e que foram atendidos pelo serviço de Farmácia Clínica em 2022, na unidade de internação hematológica do Hospital Conceição – Porto Alegre (RS). Utilizou-se dados sociodemográficos para caracterização da amostra, diagnóstico, presença de comorbidade, tempo de internação, protocolo e ciclo de quimioterapia, grau de neutropenia, cultura microbiológica, prescrição de profilaxias, uso empírico de antimicrobianos e necessidade de adequação por cultura, quantidade e tempo de internação e episódios febris. Através do teste de Regressão de Poisson, buscou-se as variáveis de exposição associadas ao risco relativo (RR) de óbito. Resultados: Dos 307 pacientes avaliados, 100 (32,6%) pacientes desenvolveram NF em um total de 149 internações. A mediana de idade foi de 52 anos (14 a 81 anos) sendo que mulheres corresponderam a 53% da amostra. As doenças mais prevalentes foram leucemias (38,3%) e linfoma não Hodgkin, tipo difuso (14,1%). Em 81,9% dos casos, as internações eram para realização de tratamento e a maioria dos pacientes apresentou neutropenia grau 4 (80,5%). Setenta pacientes internaram somente uma vez e 32 pacientes reinternaram até quatro vezes no ano. Em 113 casos, os pacientes apresentaram um episódio de NF por hospitalização, enquanto 26 tiveram entre dois e quatro episódios numa única internação avaliada. Em relação à profilaxia antimicrobiana, esta não foi utilizada em 38 casos, sendo que destes, 24 não possuíam recomendação para tal de acordo com guidelines internacionais. Em 59,9% dos casos, havia antimicrobiano prescrito de forma protocolar caso o paciente apresentasse febre (piperacilina + tazobactam em 58,6% dos casos). Em 69,9% dos exames culturais não houve crescimento de microrganismos e nos casos positivos, Staphylococcus sp. coagulase negativa foi o principal patógeno isolado (29,3%). Houve necessidade de escalonamento em 66,2% dos episódios de NF, com vancomicina como principal agente escolhido (38,1%). O tempo médio de internação foi 26 dias. Houve 122 altas, 26 óbitos e uma evasão. Na análise multivariada, identificou-se que a ocorrência de mais de um episódio de NF por internação (RR: 3,004; p = 0,001; CI 1,584-5,696) e a necessidade de escalonamento de antimicrobiano (RR: 3,449; p = 0,006; 1,415-8,404) estavam relacionadas ao risco de óbito. As demais variáveis estudadas não tiveram correlação estatisticamente significativa com os desfechos. Discussão: Os pacientes que desenvolveram NF nesta instituição possuem um perfil heterogêneo, mas, que normalmente sustentam quadros de neutropenia profunda e prolongada, condição essa que gera maior suscetibilidade a infecções e reinfecções, precisando de escalonamento de antibioticoterapia na maioria dos casos. Essas duas situações foram aqui associadas à mortalidade. Conclusões: NF é uma complicação prevalente em pacientes oncohematológicos que resulta em maior morbimortalidade dessa população, aumentando demanda e gastos de serviços de saúde. Assim, conhecer o perfil de pacientes que desenvolvem NF é fundamental no dia a dia do farmacêutico clínico a fim de aumentar a segurança do paciente e qualificar a assistência prestada.