Acta Scientiarum: Language and Culture (Feb 2018)

<b>O Dante Alighieri de Antonio Gramsci: um realismo sem mimese

  • Yuri Brunello

DOI
https://doi.org/10.4025/actascilangcult.v40i1.35646
Journal volume & issue
Vol. 40, no. 1

Abstract

Read online

Antonio Gramsci constrói nos Cadernos do cárcere uma leitura ‘anticroceana’ do Canto X do Inferno de Dante Alighieri. É uma interpretação baseada na concepção da lacuna textual – manifestada pelo silêncio de Dante frente a Cavalcante de’ Cavalcanti, um dos protagonistas do canto dantesco – como uma estratégia de natureza cultural e, ao mesmo tempo, de valor tanto político quanto social; ou seja, a poesia não é reduzida ao ‘poético’. Gramsci, de fato, recusa a visão da literatura como algo esterilmente ‘superestrutural’. Ler o Canto X, ao contrário, significa entender a poesia dantesca não como uma mimese ou uma representação, mas como a própria realidade imanente: parte de uma totalidade orgânica, na qual cada elemento – e, portanto, um elemento cultural como uma obra literária – constitui uma articulação do conjunto. O presente estudo pretende indicar, no tipo de exegese gramsciana do Canto X, uma tentativa de encontrar nas lacunas textuais não a manifestação, como acreditava Benedetto Croce (1921), da dimensão inefável e pré-lógica da intuição, mas os pressupostos para que o leitor exerça um papel ativo e criativo: racional, de articulação ideológica e de conexão entre o nível cultural, político e econômico da sociedade entendida como um todo.

Keywords