Diversitas Journal (Jan 2021)
Medidas fitoterápicas adotadas como alternativa emergencial nos acidentes ofídicos no Sertão de Alagoas
Abstract
RESUMO: Os acidentes por animais peçonhentos no Brasil são frequentes e constituem um sério problema de saúde pública. Dentre os principais acidentes destaca-se o ofidismo, em virtude de sua frequência e gravidade. Nesse cenário, práticas populares, como o uso de plantas medicinais, são utilizadas em casos de acidentes ofídicos. As plantas medicinais são os recursos alternativos mais empregados nessas práticas, sendo aplicadas tanto como complemento a soroterapia quanto como medida medicinal alternativa quando não há acesso à soroterapia. Nesse contexto, objetivou-se investigar as medidas fitoterápicas emergenciais adotadas nos casos de acidentes provocados por serpentes, além de traçar o perfil epidemiológico das vítimas desses acidentes. Trata-se de um estudo qualitativo e descritivo, realizado no munícipio de Olho D’água das Flores e desenvolvido no período de 2016 e 2017. Adotou-se o método bola de neve e os entrevistados foram selecionados mediante os critérios de idade igual ou superior a 18 anos, e serem moradores da região que tivessem informações acerca de casos de acidentes com serpentes. Para a coleta de dados aplicou-se questionários semiestruturados aos entrevistados que tiveram sua participação condicionada a assinatura de um TCLE. Os dados coletados foram registrados no programa Microsoft Excel 2010, para posterior análise e produção de gráficos e tabelas. Registrou-se um total de 68 casos de ofidismo, a maior parte das vítimas foi do sexo masculino (57,35%; n= 39). A faixa etária predominantemente foi de 38 a 78 anos (59%; n=41). A maioria dos entrevistados também não apresentou escolaridade completa (39,7%; n=27) e o local de maior ocorrência dos acidentes foi o ambiente de trabalho (86,77%; n=59). Com relação às medidas emergenciais tomadas 70,6% (n=57) não tiveram atendimento médico, 73,53% (n=50) fizeram uso de plantas medicinais, a folha (11,76%; n=8) foi a parte mais utilizada e a compressa (29,41%; n= 20) a forma de preparo mais relatada. As plantas apresentam potencial medicinal em virtude da presença de metabólitos e princípios ativos que lhes conferem propriedades curativas. Apesar de muitas plantas não apresentar potencial antiofídico comprovado na literatura científica, elas podem contribuir para a evolução no quadro clínico dos indivíduos vítimas do ofidismo. Entretanto, mesmo com efeitos positivos, é importante salientar que esta prática não substitui a necessidade do uso do soro antiofídico. Com isso, ressalta-se a importância de estudos com o intuito de investigar as possíveis propriedades antiofídicas nas plantas para que elas possam atuar de forma complementar no tratamento destes acidentes. PALAVRAS CHAVE: medicina popular, medidas emergenciais, serpentes.