Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ADIPOSIDADE CORPORAL E NÍVEL SÉRICO DE ADIPONECTINA EM PACIENTES COM SÍNDROME MIELODISPLÁSICA
Abstract
Introdução: O excesso de adiposidade corporal é um fator de risco para várias malignidades hematológicas. O tecido adiposo é um órgão endócrino ativo que secreta várias adipocinas. Dentre outras, a adiponectina é uma adipocina que desempenha papel benéfico no metabolismo corporal, com função anti-inflamatória e antineoplásica, e que é produzida de forma alterada em indivíduos obesos. Poucos estudos avaliaram adiponectina em SMD e adiposidade corporal através de diversos parâmetros. Objetivo: Avaliar o perfil de adiposidade corporal e o nível sérico de adiponectina em pacientes com SMD. Método: Trata-se de um estudo transversal com 102 pacientes com SMD e 102 controles pareados por sexo e idade em um Hospital Universitário entre abril de 2016 a março de 2018. O perfil de adiposidade corporal foi avaliado através das variáveis antropométricas: índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC), relação cintura/quadril (RCQ), índice de adiposidade visceral (IAV), massa gorda (MG), índice de massa gorda (IMG), razão cintura/estatura (RCE) e percentual de gordura corporal (%GC). O nível sérico de adiponectina foi analisado por ELISA. Resultados: Neste estudo, observou-se maioria do sexo feminino (64,7%) e média de idade de 72,07 ± 11,63 anos. Identificou-se inadequação nutricional, com excesso de adiposidade segundo os marcadores: CC, RCQ, RCE e IAV, estando estes mais elevados nos pacientes com SMD do que nos controles (p < 0,05). Concentrações séricas mais baixas de adiponectina foram observadas nos indivíduos com SMD quando comparados aos indivíduos sem a doença (p = 0,033). Segundo o IMC, pacientes com SMD e excesso de peso evidenciaram menor concentração sérica de adiponectina do que os pacientes com peso adequado (eutróficos) (p = 0,022). Menor média de adiponectina também foi encontrada entre os pacientes com %GC mais elevado (p = 0,019) e com maior IAV (p = 0,004). Além disso, pacientes com SMD com excesso de blastos (≥ 5%) na medula óssea (MO) evidenciaram média significativamente menor dos níveis de adiponectina (p = 0,041). Discussão: Outros estudos também observaram maior prevalência de sobrepeso entre pessoas com SMD. O IMC é um marcador amplamente utilizado devido ao baixo custo e simplicidade. Porém, é uma medida inespecífica, pois não diferencia massa muscular e massa gorda e não informa sobre a distribuição de gordura corporal. Nesse sentido, nosso estudo avaliou o perfil nutricional por diferentes parâmetros, o que contribuiu para a confirmação de excesso de adiposidade entre o grupo com SMD. Nosso estudo encontrou ainda, uma relação inversa dessa adipocina com outros marcadores de adiposidade e com o percentual de blastos. Estudos anteriores encontraram correlação negativa entre adiponectina e o percentual de blastos na MO em pacientes com leucemia aguda. Conclusão: Conclui-se que pacientes com SMD apresentaram maior prevalência de inadequação nutricional e hipoadiponectinemia em relação aos controles, com valores significativamente reduzidos de adiponectina nos pacientes com excesso de gordura corporal e excesso de blastos na MO. Portanto, sugere-se que deve haver uma avaliação sistemática e multidisciplicar desse grupo de pacientes, a fim de identificar e controlar fatores de risco não hematológicos.