Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
INCIDÊNCIA DE MORTES RELACIONADAS A TROMBOEMBOLISMO PULMONAR EM PACIENTES CLINICAMENTE ENFERMOS BASEADO NOS CRITÉRIOS DA RECOMENDAÇÃO DE PADRONIZAÇÃO DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE TROMBOSE E HEMOSTASIA
Abstract
Introdução: Tromboembolismo Pulmonar (TEP) é uma condição ameaçadora da vida, responsável por 5% a 10% das mortes em pacientes hospitalizados. Entretanto, a definição de morte relacionada a TEP é complexa e não padronizada nos estudos. Para evitar vieses, o Comitê Científico e de Normatização da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia (ISTH) propôs uma recomendação para a adjudicação de óbitos relacionados a TEP. O objetivo desse trabalho foi avaliar a incidência de morte relacionada a TEP em pacientes clinicamente enfermos, tendo como referência a Recomendação de Padronização do ISTH (ISTH-RP). Materiais e métodos: Trata-se de coorte prospectiva, conduzida em um hospital público geral, que incluiu pacientes clínicos agudamente doentes (não cirúrgicos), adultos (> 18 anos), hospitalizados, sem uso ou indicação prévia de terapia anticoagulante, sem evento tromboembólico nas primeiras 48 horas. Pacientes com transtornos psiquiátricos, ginecológico-obstétricos, admitidos imediatamente na Unidade de Terapia Intensiva ou Unidade Coronariana e aqueles com internação hospitalar inferior a 48 horas foram excluídos da amostra. A avaliação de risco tromboembólico foi realizada através da aplicação do escore IMPROVE7 à internação. O acompanhamento ocorreu durante a internação e por 90 dias após a alta, por meio de entrevista telefônica. Informações sobre o óbito foram obtidas por Declaração de Óbito e dados de prontuário. A classificação foi realizada por 2 adjudicadores independentes, treinados de acordo com o ISTH-RP. Um terceiro adjudicador avaliou o diagnóstico nos casos discordantes. O coeficiente Kappa de Cohen foi empregado para avaliar a concordância entre os observadores. Resultados: Dentre os 2380 pacientes admitidos entre agosto de 2017 e setembro de 2018, 328 (1,5%) vieram a óbito. A análise de perfil demográfico desses pacientes demonstrou mediana de idade de 77 anos (IIQ 70‒85), 55,5% do sexo feminino (182/328), 222 (67,7%) classificados como sendo de baixo risco para TEV (≤2 pontos no IMPROVE7). Sobre os óbitos, 57,6% (189/328) ocorreu durante o período de internação, 1,5% (5/328) foram considerados relacionados a TEP, seja confirmado por exame de imagem objetivo (2/328; 0,6%), seja por critérios exclusivamente clínicos (3/328, 0,9%). A maioria dos óbitos (n = 299/328; 91,2%) foi atribuída a outras causas, não relacionadas a TEP. O Coeficiente Kappa de Cohen entre os adjudicadores foi de 0,79 (95% IC 0,67‒0,90). Discussão: Nesse estudo, morte relacionada a TEP confirmada por exames objetivos ocorreu em 1,5% dos pacientes clínicos hospitalizados, incidência inferior à reportada em outros estudos. A RP-ISTH foi uma ferramenta objetiva e estratégica de avaliação dos eventos. A confiabilidade entre observadores foi de 0,79, considerada uma concordância substancial. Um desafio encontrado foi a categorização dos óbitos sem dados clínicos suficientes, já que nem sempre as informações descartavam TEP de forma clara. Além disso, houve limitação quando os óbitos ocorreram em outras instituições, dada a falta de informações disponíveis. Conclusão: O ISTH-SR parece ser uma ferramenta útil para determinar óbitos relacionadas a TEP de forma padronizada. Este parece ser o primeiro estudo que se propôs a aplicá-la diretamente.