Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

ABORDAGEM ANTIBACTERIANA EMPÍRICA DO PRIMEIRO EPISÓDIO DE NEUTROPENIA FEBRIL E PERFIL MICROBIOLÓGICO DAS INFECÇÕES DE CORRENTE SANGUÍNEA EM PACIENTES TRATANDO LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA NO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFMG

  • WSV Júnior,
  • ABF Glória,
  • FBC Coutinho,
  • SEBJ Neves,
  • LMB Batista,
  • NM Bernardes,
  • SS Custodio,
  • TV Lourenço,
  • RG Silva,
  • DD Ribeiro

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S298 – S299

Abstract

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Introdução: As infecções estão entre as principais complicações em pacientes onco-hematológicos. A monitorização da epidemiologia local, dos esquemas antibacterianos utilizados e dos desfechos são indispensáveis para guiar as condutas de tratamento. Objetivos: Avaliar a terapia antibacteriana empírica utilizada na abordagem do primeiro episódio de neutropenia febril e seus desfechos clínicos, assim como o perfil microbiológico das infecções de corrente sanguínea durante as neutropenias febris. MÉTODOS: Estudo observacional, unicêntrico, conduzido no HC UFMG, entre março de 2018 a agosto de 2022. Incluídos pacientes de 18 a 65 anos com diagnóstico de leucemia mieloide aguda (LMA) com intenção de tratamento curativo. Resultados e discussão: Foram incluídos 49 pacientes no estudo, sendo a mediana de idade de 52 anos. Foram observados 142 períodos de neutropenia, sendo 137 episódios de neutropenia febril. Dentre as infecções de corrente sanguínea (ICS) durante os períodos de neutropenia, 69,1% eram bactérias gram-negativas (GN), 22,7% bactérias gram-positivas (GP) e 8,2% fungos. Dentre os GN isolados, os patógenos mais comuns foram Klebsiella sp (42,1%), Escherichia coli (18,4%) e Pseudomonas sp (18,4%). O tempo médio geral para positivação de hemoculturas para GN e GP foi em média 12 horas e 9 minutos e 16 horas e 42 minutos, respectivamente. Os esquemas antibacterianos empíricos iniciais foram guiados conforme o ECIL 2011. 66,4 % dos pacientes foram abordados com terapia de escalonamento: cefepime ou piperacilina tazobactam. 33,5 % dos pacientes receberam terapia de descalonamento dos quais 17,5 % com uso de carbapenêmicos e 16% com esquemas para germes multidroga resistentes. 22,6 % receberam vancomicina empírica no primeiro episódio. Os principais motivos para uso de glicopeptídeo foram infecção cutânea (45%) e choque (35%). Foram registrados 18 casos de choque precoce após o início da febre, dos quais 15 com confirmação de ICS. Dentre os isolamentos microbiológicos 14 correspondiam a GN e 01 GP. Quatro pacientes receberam esquema antimicrobiano com cobertura inadequada ao isolamento microbiológico. Dentre tais pacientes 03 apresentavam ICS por GN e evoluíram para choque precoce. Um paciente possuía ICS por GP e não apresentou intercorrências. Uma morte precoce foi registrada em paciente com ICS por GN. Dos 20 pacientes que faleceram ao longo do período do estudo, 45,0% e 60,0% apresentaram crescimento de GN em pelo menos uma hemocultura nos 7 e 30 dias anteriores ao óbito, respectivamente. Percentual menor quando avaliado o crescimento de GP, presentes em apenas 5,0% e 15,0%, respectivamente. Apesar das limitações do presente estudo, os dados encontrados vão de encontro aos vigentes na literatura sugerindo associação entre ICS por GN com choque precoce e mortalidade. As bactérias GN predominam no nosso serviço, representando 69,1% dos patógenos. A cobertura antibacteriana empírica para GP apesar de encontrada em algumas recomendações vêm sendo desencorajada ao longo dos últimos anos. O atraso inicial da cobertura antibacteriana para GP parece não se relacionar com os piores desfechos precoces. Conclusão: O uso racional da antibioticoterapia empírica e o melhor entendimento do perfil microbiológico das ICS são fundamentais para o melhor manejo dos pacientes onco-hematológicos. A abordagem antibacteriana inadequada das ICS por GN se relacionam a piores desfechos clínicos precoces e tardios.