Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Apr 2000)

O Risco para Queixas Ginecológicas e Disfunções Sexuais Segundo História de Violência Sexual Risk of Gynecologic Complaints and Sexual Dysfunctions According to History of Sexual Violence

  • Anibal Faúndes,
  • Ellen Hardy,
  • Maria José Osis,
  • Graciana Duarte

DOI
https://doi.org/10.1590/S0100-72032000000300006
Journal volume & issue
Vol. 22, no. 3
pp. 153 – 157

Abstract

Read online

Objetivo: avaliar, numa população brasileira, a possível associação entre história de violência sexual e algumas das queixas ginecológicas referidas com maior freqüência pelas mulheres. Métodos: análise secundária de dados de um estudo do tipo transversal retrospectivo em que foram entrevistadas, em seus domicílios, 1.838 mulheres com 15 a 49 anos de idade, residentes em Campinas e Sumaré, no Estado de São Paulo. Utilizou-se um questionário estruturado e pré-testado, que permitiu caracterizar a história de violência sexual das mulheres, a existência de disfunções sexuais e a presença de sintomas ginecológicos no ano anterior à entrevista. As diferenças estatísticas foram avaliadas com o teste chi². Resultados: pouco mais de um terço (38,1%) das mulheres não relatou história de violência sexual; 54,8% referiram que, alguma vez, tiveram relações sexuais contra sua vontade, sem terem sido forçadas a isto, embora 23% mencionaram algum tipo de constrangimento; 7,1% relataram já terem sido forçadas a manter relações. Verificou-se associação estatística entre história de violência sexual e a referência a queixas ginecológicas e a disfunções sexuais. Conclusões: evidenciou-se que até formas menos agressivas de imposição da vontade masculina na vida sexual do casal associaram-se a uma maior prevalência das queixas ginecológicas mais freqüentes. O ginecologista deve, portanto, ter em conta este fator etiológico, excepcionalmente considerado no presente momento.Purpose: to evaluate, in a Brazilian population, the possible association between history of sexual violence and some of the more frequent gynecologic complaints related by women. Methods: secondary analysis of data from a cross-sectional study in which 1838 women between 15 and 49 years of age were interviewed in their homes. They were residents of the cities of Campinas and Sumaré, in the state of São Paulo. A structured and pretested questionnaire was used, which allowed to characterize the interviewees' history of sexual violence, the existence of sexual dysfunctions and the presence of gynecologic symptoms in the year previous to the interview. The statistical differences were evaluated by the chi² test. Results: little more than one third (38.1%) of the women did not report history of sexual violence; 54.8% related that at least once they had had sexual intercourse against their will, without being forced to, although 23% mentioned some kind of coercion; 7.1% reported having been forced to have sex. Statistical association was found between history of sexual violence and the reference to gynecologic complaints and sexual dysfunctions. Conclusions: it was observed that even less aggressive forms of imposition of the man's will in the couple's sexual life were associated with a higher prevalence of the most frequent gynecologic complaints. The gynecologist must, therefore, have in mind this etiological factor which is rarely being considered at the present time.

Keywords